Igor David

23 de jan de 20219 min

ECOS DE CIRTAN - Capítulo VI (FINAL) – Da Guerra das montanhas e da Guerra pelo controle do mundo

Assim, marchou uma grande multidão de homens, elfos e anões rumo às cadeias de montanhas atrás do inimigo do mundo, Bóron. Ao chegarem próximo às montanhas, lá estava Bóron com sua armadura e maior em estatura estava, possuía uma grande foice em suas mãos e com ele toda sua horda maligna composta por orcs, trolls, lobos de carapaça, grandes lagartos, dragões, seus gigantes, draconatos e outras feras abomináveis.

A batalha se iniciou e Bóron soltou suas hordas para cima dos homens, elfos e anões. A batalha era grande, os homens, elfos e os anões utilizavam todos os seus artifícios para equilibrarem a batalha, mas Bóron estava em número muito maior e, nessa batalha morreu Fuindilas e Naeval, ambos conseguiram golpear a Bóron e isso o deixou enfurecido e assim golpeou a ambos, que foram mortos pelas retaguardas enquanto se ocupavam em defender-se dos pesados golpes de Bóron. Em certo momento, o flanco dos anões foram espremidos entre os inimigos e não tinha como os elfos ou os homens ajudá-los, pois estes estavam em dura batalha e não conseguiam chegar até eles para os auxiliarem, mesmo assim nas histórias contadas pelos anões que sobreviveram se diz que elfos se recusaram a ajudar e que os homens foram coniventes com a decisão dos elfos, mas isso não havia sido a verdade.

Dessa batalha poucos retornaram, e Bóron saiu vitorioso, embora também sofresse dano, mas os homens, elfos e anões bateram em retirada, e quase nada dos anões retornaram. Assim, os remanescentes dos anões se enterraram nas minas de Farbad, o que hoje é território de Har-An e não quiseram mais convívio com homens e elfos. Durante um hiato sem ataques de Bóron, um período como que o olho de um furacão, puderam então se reerguer os elfos e os homens, mas os anões já quase não existiam e isso foi obra de Bóron.

Os homens e os elfos se aconselhavam entre si e concordavam que Bóron estava bem perto de ser o senhor deste mundo, por causa disso uma grande hoste dos homens que habitavam terras longínquas, de onde Inieval e Naeval e Iorgson haviam vindo, passaram para o lado de Bóron e se tornaram seus servos, os remanescentes destes se tornariam mais adiante os homens que colonizariam o oriente e dariam início a todas as raças orientais.

Inieval e Iorgson lamentavam a morte de Naeval na batalha, e seus filhos Elgor, Iskail e Sabár estavam ansiosos em vingar seu pai. Também os filhos de Inieval e Iorgson os apoiavam e, dentre os elfos, ainda havia muita força e por mais que a balança estivesse tendendo mais para o lado de Bóron, nada garantia sua vitória, pelo menos não com facilidade.

Assim, tendo se passado alguns anos após a guerra das montanhas, ou guerra da lamentação, ou guerra do senhor sinistro, como ficou conhecida, Bóron agora reorganizando suas forças partiu com força máxima contra o reino dos homens, a cidade de Cirtan. Foi com seus draconatos, orcs, trolls, dragões, grandes lagartos, lobos de carapaça, os gigantes e agora alguns homens lagartos mais altos e robustos do que os draconatos, e investiu contra a cidade dos homens e assim se deu início a batalha pelo mundo.

Os homens enviaram o sinal, e os elfos vieram ao auxílio destes com força total, os anões não apareceram, mas as frentes de homens e elfos se mostraram fortes, pois estavam determinados e não ousavam se quer em pensar em perder esta guerra. Mas Bóron havia destacado outra horda para atacar à Decáris assim que os elfos saíssem em auxílio dos homens, e com a cidade desprotegida, Decáris foi atacada pela horda assassina de Bóron com grandes dragões. Pilharam e derrubaram Decáris que, após o ataque, nada mais sobrou senão um monte de pedras sobre pedras. Um grande pedaço da cidade caiu devido a um tremor que ocorreu vindo das montanhas, após uma delas cuspir magma quente, caiu então Decáris e afundou mar adentro e esta queda formou as falésias que agora ali existem próximo dos Confins.

Algumas famílias conseguiram fugir para a floresta e se embrenhando nelas ainda se salvaram, a horda de Bóron ali em Decáris partiu para Cirtan a fim de esmagar a cidade dos homens. Bóron também veio e descendo ao meio da batalha com seu dragão Ivagavon, golpeava com sua enorme foice e varria os adversários, mas os homens e elfos se mantiveram fortes frente a esta batalha. Os dragões queimavam e incendiavam a cidade dos homens, as balestras tentava acertá-los, mas difícil era acertar os dragões em seus pontos fracos, entre suas carapaças.

Os gigantes também desequilibravam a luta e pisoteavam tanto a homens quanto a elfos e até os cavalos. Foi então que Inieval foi confrontado por um gigante e, golpeando as suas pernas, o fez ajoelhar e, subindo pelas suas costas, chegou à garganta e sua espada cortou a jugular do gigante e sangue borrifou vários soldados a sua frente como se tivesse chovido sangue.

Mas nesse tempo outro gigante chutou a Inieval que, ao cair longe dali, morreu pelas feridas do violento golpe. Seus filhos visualizaram toda a cena e atacaram o gigante, que foi cortado de várias maneiras até que caído foi golpeado fatalmente por Sabár, filho de Naeval irmão de Inieval. E assim a luta prosseguia, não havia tempo para prantear a morte de seus companheiros e enfim alguns anões chegaram para ajudar, os poucos que sobraram, mas embora fossem de grande ajuda, nessa batalha pereceram todos, dando fim à raça dos anões.

Bóron implacavelmente matava e pilhava seus adversários, mas Guilleman, filho de Inieval ousou lutar diretamente contra ele. A diferença de estatura era grande, mas Bóron golpeava e Guilleman se esquivava, Guilleman conseguiu golpear a Bóron e este ficou extremamente irado com isso e acabou acertando Guilleman, que foi jogado para cima, pego por um dragão e depois solto de uma grande altura e, ao cair, morreu.

A batalha continuava vermelha de tanto sangue derramado, mas ainda longe do fim, as forças de homens e elfos estavam diminuindo e a esperança já começava a esvaecer-se. Se reagrupando homens e elfos olharam para o ainda enorme exército maligno de Bóron e um espírito de abnegação e fúria tomou conta deles, ao que voltaram a batalhar novamente num modo aterrorizante e numa fúria incontrolável, estado este que mais tarde seria denominado Berseker. Neste momento Bóron ficou com medo e deu dois passos para trás, e enviou suas feras e suas aberrações ao ataque novamente e a batalha se inflamou. Por quinze dias batalhavam contra as forças da escuridão, pela qual ainda foi chamada de guerra amargurada, ou guerra da luz e escuridão.

A força dos homens e elfos continuaram demonstrando braveza, até que chegou um ponto em que nada mais restava a ver se não uma morte honrosa, mas grandes amigos chegaram à batalha. Zilroth e seus companheiros chegaram e o ânimo dos homens e elfos foram renovados, Zilroth com as mandíbulas atacava e com suas garras dilacerava e os grandes tigres foram de muita ajuda, exterminaram todos os lobos de carapaça. Mas ainda a força de homens e elfos eram diminuídas e as forças de Bóron, sendo em número extremamente maior, ainda sobrepujavam os elfos e homens. Estes, embora não se entregassem, enxergavam seu fim em morte gloriosa, ferindo tanto quanto podiam o mal do mundo.

Foi nesta hora que desceu do céu num estrondo como um trovão Mieva, a mais nobre e mais forte guerreira dos Qtai-Detós, e veio em auxílio aos homens e elfos, enviada pelo alto conselho. Com sua espada traspassava a todos orcs, draconatos, lagartos e homens lagartos, trolls, dragões, gigantes. Em poucos minutos limpou o campo de batalha e apenas alguns das forças de Bóron sobraram e bateram em retirada com grande medo e destes não sobrou nenhum grande lagarto ou dragão, todos foram se esconder nas masmorras das cadeias de montanhas, ainda outros fugiram sem rumo para a direção a qual olhavam na hora.

Mieva enfrentou Bóron, o golpeou e o derrotou, o deixando caído no chão, então o prendeu em um sarcófago e disse aos homens e elfos ali presentes: “meus irmãos, não foi me dada autoridade para matá-lo senão eu os livraria desta ameaça agora mesmo, mas preso ele ficará para sempre”!

E linda era Mieva e suas asas pareciam de luz, ou de energia pura como a que é demonstrada nos relâmpagos. Sua vestimenta é branca e loiros como o sol de verão são seus cabelos. Mieva questiona sobre um lugar apropriado para guardar a prisão de Bóron, e os elfos e homens dão sugestão de o depositarem em uma das cavernas na cadeia de montanhas, e assim foi feito. A chave do sarcófago foi então deixada a cargo de Iorgson, para guardá-la e mantê-la segura, essa chave foi chamada de “os olhos de Stallender”, pois Stallender foi o artesão Qtai-detós que forjou esse sarcófago, prisão da qual era impossível escapar.

Mieva assim partiu e disse aos elfos que se veriam novamente no futuro, pois se referia ao fato que, de acordo com os criadores dos elfos, em um tempo designado no futuro os elfos deixariam a terra e iriam viver junto de seus criadores em outro mundo. No entanto, ainda restaram criaturas malignas, orcs e trolls e o dragão Ivagavon, que se esconderam e se enfurnaram profundamente nas cavernas das cadeias de montanhas, e lá ficaram aguardando um provável retorno de seu mestre.

Três gigantes haviam sobrado depois da batalha, estes fugiram para as florestas além das planícies de Sicar e por lá ficaram vivendo, punham medo por aquelas bandas e todos viviam aterrorizados sem saber quando aqueles gigantes chegariam a suas aldeias e traria ruína e destruição as suas moradas.

Ainda alguns homens que haviam se aliado a Bóron fugiram e com seus navios se puseram em fuga, agora não mais para o lugar de onde vieram, pois os que lá ficaram eram ainda amigos dos homens de cá e dos elfos, sendo assim, se para lá voltassem, seriam presos ou mortos. Então rumaram para o oriente e junto deles foram oito draconatos e um homem lagarto, o qual haveria de deixar um ovo antes de morrer e dele nasceria Kórioc que faria grande nome no oriente, sendo o último de sua espécie.

Os gigantes eram dois de aparência humana, embora de aparência pavorosa, pois eram feios e tinham deformidades, estes eram “gêmeos” e um havia sido mesclado com um caprino e tinha aparência de um caprino, embora andasse e se movesse como um homem. Os gêmeos, em uma briga, puseram o gigante caprino no fundo de uma ravina que tinha o formato retangular e extremamente funda era, de largura tinha mais ou menos cento e quinze metros e de comprimento cerca de trezentos e setenta e cinco metros, de modo que o caprino lá embaixo ficou preso. Os gêmeos então puseram rochas enormes nos quatro cantos da ravina e fixaram sensíveis pontos de contenção, para que, se quisessem, fizessem as rochas descerem violentamente abaixo e acertar o caprino. Mas os gigantes gêmeos não se davam bem e constantemente lutavam entre si, até que, em uma dessas lutas, um deles foi morto.

Durante muito tempo Iorgson cuidou muito bem da chave da prisão de Bóron, mas depois da morte de Iorgson, seus filhos, por descuido, perderam a chave e esta foi tida como uma joia por quem achou. Por algum tempo, algumas pessoas diziam ser um amuleto e passando de mãos em mãos chegou a Barinór, pai de Smiraegdor e avô de Anaegdor, mas Smiraegdor bebendo e farreando perdeu este amuleto e fez de sua vida uma missão para reencontrá-lo, mas nunca mais se soube do paradeiro dele até morrer e seu filho Anaegdor continuar essa busca.

No oriente os homens aliados de Bóron chegaram e lá procuraram se estabelecer, mas surpresos ficaram quando encontraram alguns homens já habitando por lá, de fato, alguns poucos haviam saído velejando mar a fora logo quando os humanos construíram os primeiros navios, alguns não retornaram, mas achava-se que havia naufragado. Contudo, famílias ali agora existiam, o que indica que muitas mulheres também estavam naqueles navios. Assim os homens aliados de Bóron viajaram e buscaram terras distantes para se alocarem e levaram algumas mulheres que encontraram por lá com eles, assim iniciaram morada em terras orientais. No oriente havia ainda as grandes serpentes que habitavam os mares, mas que de quando em vez rastejavam entre as florestas, os dragões criados pelos Víroks e que logo se puseram a viajar mar afora. Essas criaturas eram reverenciadas pelos homens que ali chegaram e muitos mitos foram construídos em torno dessas criaturas na cultura oriental, que perduram através dos tempos, muitas das histórias fruto da inventividade humana, outras com um fundo de realidade.

O alto conselho se reuniu, ouviu Mieva e foi decidido que os Víroks estavam proibidos de terem contato com o planeta terra, sob pena severa se o fizessem. Ainda se avaliaria se as criações dos Víroks que ainda permaneceram continuariam existindo ou deveriam ser exterminadas para não haver vestígios dos trabalhos deles na terra. Os Cetélis foram consultados sobre o extermínio de sua criação e da possibilidade de trazerem de volta os anões a terra, mas não demonstraram interesse e assim ficou.

Por esse período homens e elfos seguiam habitando a terra, com uma grande diferença. Com a queda de Decáris os elfos se reuniram, tomaram navios e foram morar em outras terras, numa cidade entre montanhas e rios, de difícil acesso, de fato se tornou a cidade escondida dos elfos e a grande maioria partiu para este novo lar. Mas uma pequena fração não quis acompanhar seus irmãos, pois moravam na floresta e desejam continuar lá, então a mais poderosa elfa ficou com eles, Várna Enairam, a estrela mais cintilante, Várna criou um encantamento ao redor da cidade dos elfos na floresta, de modo que ninguém podia passar por este campo de força e muitos que por ali passavam nem mesmo percebiam a cidade dos elfos da floresta.

Assim, seus irmãos quando partiram deixaram claro que se precisassem de ajuda eles voltariam imediatamente, com eles havia águias de voo rápido que levariam a mensagem, caso preciso fosse. A paz perdurou entre os homens, que foram reconstruindo e reconfigurando aquelas terras, agora sem os elfos. Muitas famílias de homens se espalharam por ali e muitos reinos se formaram mundo a fora, dois mil e quinhentos anos se passaram sem que nada fantástico acontecesse, até que, em determinado dia, uma pedra cai do céu no reino dos homens, no reino que agora é chamado de Vale de Alória.


Sobre o Autor:

Brasileiro, taubateano e descendente de italianos, Igor Demerval David (I. D. D. David) é formado em administração de empresas e graduando em educação física, servidor publico municipal, e praticante de karatê, apaixonado por literatura contextualizada em ambientes medievais ou análogos, principalmente as obras de J. R. R. Tolkien.

    130
    6