Lorena, Um Dia qualquer...
Belíssima!
Desculpe a impessoalidade por escrever uma carta no editor de texto do computador. Acho tão impessoal quanto uma carta datilografada. Falta o cuidado, a escolha do papel, a pressão da caneta. Lembro-me da época em que lhe escrevia em folhas de papel vergê, com a gramatura escolhida de forma que o relevo das ranhuras da folha não atrapalhasse o deslizar da ponta da caneta. Cuidado que um frio teclado de computador não lhe oferece.
Esses detalhes estão implícitos no cuidado de quem ama verdadeiramente. São os detalhes que fazem a diferença no amor. E ao escolher o papel imaginava o toque de suas mãos ao ler a carta. Claro que seus olhos passando pelas curvas de minhas letras seriam menos machucados pela luz branca de um editor de texto, o amarelado do papel, lhe seria uma carícia também.
Desculpe a prolixia. Fico fazendo rodeios explicando meus métodos, pois eles podem ser explicados, esclarecidos. Meus sentimentos não. Não posso descrever a saudade, nem relatar qualquer emoção nascida da distância. Qualquer emoção não representaria a mensura impossível da verdade de minhas emoções.
Ensaiei anos fazer essa carta. Queria dizer-lhe o que escrevo, olhando em seus olhos, medindo suas reações, mas o destino não quis assim. Lembro-me da última vez que a olhei. Lembro-me do que vestia, dos assuntos que conversamos. Lembro-me dos seus gostos e de seus sabores. Lembro-me de tudo. Mas nada fez diferença. O destino não quis assim. Mas essa máxima é a fala dos amantes frustrados, perdidos, dos não correspondidos. Porque o amor é apenas mais uma escolha. Não o amor puro, idealizado. Mas esse amor que você dizia sentir por mim. No fim não fui a sua escolha. Não há destino. Nosso caminho é fruto de nossas escolhas. E no momento que o caminho propôs uma escolha, não fui escolhido. Talvez, eu, também não escolhesse você. Talvez o significado de amor seja tão concebido de forma errônea que ao ser exigido verdadeiramente a pessoa descubra que não ama ou nunca foi amada. Amor significa anulação, doação, querer bem. E se a escolha for movida por algo que diga respeito apenas a você: Voilà! O amor é próprio apenas. É egoísta. É o amor pelo peixe. Eu amo peixe. Tanto que o mato para comê-lo e satisfazer a minha vontade, a minha fome. Isso não é amor.
Desculpe-me, Belíssima. Mas você apenas foi minha musa, minha motivação e inspiração. Nunca lhe amei e nunca fui amado. Apenas nos servimos, carnalmente, em função de hormônios em ebulição. Desculpe-me, as putas me foram mais sinceras. Obrigado pelo seu corpo. Não lhe pago em dinheiro, pois meu corpo fui sua paga.
Que a vida dê um coração novo,
Escrito por aquele que você não amou.
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