Era natal… Igual a tantos vinte cinco dezembros passados, os mesmos sentimentos magoados, as mesmas falsidades pregadas, e mais outra noite que o bom velhinho não ia vir. Sempre foi assim… Como seria diferente? O mesmo frango assado na mesa, fingindo que era peru; arroz, farofa e um vinho tão barato que só servia como instrumento para a dor de cabeça do dia seguinte. Era meu inferno pessoal… Familiares enchendo a cara, pessoas de conhecidamente desconhecidas, que há anos não sei quem são, mas se eu os conhecesse de verdade, mudaria alguma coisa? Creio que não!
Na minha infância esse dia era tão especial, brincava com meus primos no terreiro de casa, tomava banho de açude, jogava bola, jogava mamonas e imaginava que estava em uma guerra. Éramos inocentes, achávamos que a guerra era divertida, e hoje depois de vários natais, vejo que não! Acho que minha maior decepção foi ter perdido essa inocência de criança, em ver que a cada Natal que se passava minhas ilusões iam caindo, caindo, caindo nesse frágil castelo de cartas, onde um simples sobro do vento da realidade derrubou tudo que achava bonito.
Mas vida que segue… E vai seguindo, passando pelas trocas calendários, nos vinte cinco de cada mês, sendo mais um freguês dessa mercearia chamada vida, que vende fantasias dos coelhos que botam ovos de chocolate, de velhinhos que andam de trenós puxados por renas, fantasias vendidas pra enganar seu credor.
Meus amigos, parceiros que comigo enchiam a cara nas madrugadas da ilusão desse dia, onde enchíamos a cara de alegria, e cheirávamos certezas falsas. Mas hoje não! Hoje é retratos na parede da memoria, uma memoria tão conturbada que nem me lembro de direito os dias que eles partiram, mas um eu sei! Foi vinte quatro de dezembro… Morto! Como tantos outros mortos que o tempo vai fazendo a questão de ir esquecendo, mais se esquece de curar as feridas da alma. Mas fazer o que, né? É Natal! É dia de comemorar, não de sofrer.
Mas vida que segue… Os minutos vão passando, as caras vão ficando vermelhas, mas não de vergonha pelas coisas ruins que fizeram no ano, e sim, sobre as garrafas de vinho que vão esvaziando, as besteiras vão aparecendo, lagrimas falsas surgem com tanto ácido que ao pegar no chão do real, o buraco vai se abrindo, mostrando a face da cada um como é. E eu trancafiado em mim mesmo, dentro dos meus pensamentos, vejo tanta besteira, minha mãe esperando Roberto Carlos, minha avó a missa do galo, e eu esperando minha inocência do natal voltar. Mas nunca vai…
Sobre o Autor:
Pernambucano, ator, produtor cultural e escritor, Luiz Alladin escreve versos desde a infância, influenciado pela família, mas entrou de cabeça mesmo na literatura quando largou a faculdade de ciências contábeis e começou a frequentar os saraus. Hoje ele se dedica em escrever seus textos e a produzir eventos culturais na região onde vive, no interior de Pernambuco, preservando espaços de cultura de resistência.
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