Conforme o tempo foi passando, Aldemir foi percebendo que as coisas não eram como ele pensava, mas aí já era tarde demais.
Tudo estava indo de acordo com o planejado. Ele pagou pelo serviço e recebeu o pacote completo, só não contava com os efeitos colaterais.
Os primeiros sintomas apareceram quando ele percebeu que perdera o medo; não um medo particular, mas O medo em si. De entrar numa briga, de altura e todo o resto. Uma vez, quando desafiado pelos seus amigos a mergulhar no Laguinho à noite, ele imediatamente deixou a sua garrafa de cerveja na grama rasteira com barro do estacionamento, tirou a roupa até ficar só de cueca e pulou naquele breu marinho. Ficou submerso por dez minutos, sem fechar os olhos, encarando a escuridão e não se importando com o frio queimando na sua pele. Teria ficado mais tempo até o nariz começar a sangrar, se não fosse pelos dois amigos que o tiraram de lá.
Depois, vieram as displicências. Momentos de antipatia total para com os próximos, o que simplesmente não combinava com a sua personalidade. Começou a dar respostas atravessadas para todo mundo, entediava-se facilmente durante uma conversa que antigamente despertaria seu interesse num piscar de olhos. Sem contar que passou a fazer as coisas com pouco cuidado ou esmero; não se vestia bem, andava desleixado e sem se preocupar muito com aparência ou mau cheiro.
Por último, perdera toda a sensibilidade táctil. Em parte, por efeito colateral, em parte por ter começado a ingerir e fumar diversas substâncias que deterioravam seus sentidos. Nada mais podia machucá-lo. Logo, tornou-se isolado, como um sábio da montanha, mas sem sabedoria alguma. As experiências que passou a conduzir em si mesmo no seu quarto tiravam o sono e assustavam seus pais. Em poucos dias, sua consciência o deixou, suas unhas amarelaram e seus dentes, também amarelados com o tempo, apodreceram. Seu cabelo foi caindo aos poucos, revelando um crânio que, assim como a pele, adquirira uma cor de bronze enferrujado. Seus membros se atrofiaram, suas mãos se curvaram até ele passar a andar numa posição de primata, com as pernas e os pés apontados para dentro e tendo que ser arrastados pelo tronco esquelético.
Ao final de tudo, ele já não era mais um ser humano. Havia conseguido o que queria. Agora ele era uma criatura irracional e amorfa, incapaz de amar ou se apaixonar.
Dessexualização completa.
Pablo Vieira Neves nasceu Rio de Janeiro, onde viveu até os 14 anos. Vive em Varginha-MG, desde então. Inspirado em um jogo de videogame chamado Alan Wake, passou a escrever. Escreve desde então por diversão. Publicou em no Wattpad (conta deletada, atualmente), no Recanto das Letras e também publicou em uma feira literária, em Varginha.
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Podexá!
Me faça um favor: Não deixe de escrever.
Muito obrigado, Luiz. O título foi inspirado na música do James Brown, Sex Machine. kkk
Parabéns meu caro. Bela descrição de uma "distopia particular". Parabéns!!