Então...
Sempre ficamos falando de coisas que envolvem livros. De formato, estrutura, conteúdo, mercado, linguagem, e as eternas brigas sobre o que funciona e o que não funciona.
Vamos então ao trabalho. Vou escrever aqui um projeto que desenvolvi há dois anos, pouco mais talvez, quando tive uma crise existencial. À época já estava com dois livros publicados, pensando no terceiro e me deparei com uma dúvida: E outras histórias? Será que consigo desenvolver ou foi só um momento de iluminação criativa? Impus-me um desafio. Criar várias histórias que pudessem vir a ser trabalhadas isoladas, mas que fizessem parte de um todo. Como se contasse a vida de família de uma mesma cidade, ou moradores do mesmo prédio, ou passageiros do mesmo trem, navio, sei lá. Todas seriam perpassadas por uma coisa em comum, caso não fosse o mesmo navio, poderiam ser um crime ou uma guerra ou uma venda de beira de estrada. E escrevi.
Vocês verão no decorrer das próximas semanas essas histórias.
Quem sabe um dia, eu as termino. Ou não.
Ainda não sei o que é fim. Nem sei se há vida após a morte, se se amanhã um meteoro colidirá com a Lua. Como definir o fim de uma história?
Pensaremos nisso no futuro.
A seguir o prefácio do projeto.
Créditos iniciais ou Prefácio para quem preferir.
Uma vez ao andar em um trem turístico, não pude evitar ouvir uma conversa. Ao olhar uma casinha fincada no pé da serra, a senhora sentada no banco em frente ao meu, disse: Olha lá, João! Parece casa de pintura. Daquelas que Odete pinta.
Não sei quem é João, nem Odete. Mas o que seguiu na conversa me deixou encafifado. João, perdido em olhares profundos disse: Ali deve ter história.
Narrativas que se cruzam, histórias que não são contadas. Amores, traições, derrotas, vitórias. Coisas que acabam bem. Novelas sem casamento no final. O herói da profecia que falha, o anti-herói sem redenção. Mortes estúpidas. Vidas gloriosas. Tudo acontece ao nosso redor e nem notamos. Nem tudo tem registro ou sentido. Algumas vezes apenas passamos ao longe e vemos uma moça na janela, um menino na rua, uma manchete de jornal. Não há ligação, mas tudo está ligado. Basta olhar com atenção. Ler atentamente. E olhar cada capítulo da vida como quem olha um álbum de retratos velhos e imagina o antes e o depois do abrir e fechar do obturador. Leia o texto a seguir com esses olhos. Olhar de quem imagina e enxerga além da fotografia. Divirta-se.
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