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Foto do escritorIgor David

ECOS DE CIRTAN - Capítulo IV – Do Decaimento de Bóron

Indo então Bóron rumo às montanhas e cânions, que ficaram posteriormente conhecidas como os Confins, acharam abrigos em fendas nas montanhas e em cavernas e por lá foram ficando, até que um dia Bóron e alguns elfos com ele desbravando aquela região viu uma luz sendo emitida de dentro de uma caverna e chegaram mais perto para investigar o que era. Chegando à entrada da caverna, ninguém quis entrar para ver o que era, Bóron então entrou sozinho. Dentro desta caverna estavam alguns Víroks que ainda não tinham ido embora, e Bóron foi ter com eles, ele ficou maravilhado com o poder daquelas criaturas e almejou aquele poder. Perguntou como poderia ter aquele poder também, então o líder dos Víroks ali presente veio até Bóron e disse: “Poder posso lhe dar e o poder que queres terás, mas nada que lembre quem você era restará, essa sua imagem perecerá e nem mesmo você lembrará de quem eras antes de ter poder”! Bóron disse: “Então me dê este poder logo, pois preciso dele”! Os Víroks então disseram: “Sei que não está sozinho”! E então solicitaram que ele trouxesse todos os seus associados. Assim, Bóron saiu da caverna e enviou seus associados para convocar e trazer a todos ali, o que fizeram imediatamente. Chegando então frente à caverna, postaram-se toda a hoste de elfos de Bóron, os Víroks se olharam como quem tramavam o mal e passaram a dar poder a Bóron. Mas, por conta disso, toda a luz e beleza dele foi sugada, sua pele se tornou fosca e sem brilho, e seus olhos e cabelos enegreceram e sua figura se tornou feia e aterrorizante assim como o Vírok tinha avisado.

A energia de seus associados, tanto dentro das cavernas como os de fora, foram sugadas no processo para que Bóron se engrandecesse, e de elfos de luz se transformaram em criaturas feias e nojentas, com aparência deformada, nem mesmo lembravam que haviam sido elfos anteriormente. Tinham uma disposição ao mal e serviam seu mestre Bóron com lealdade inquebrantável baseada no medo e os desejos de Bóron faziam com afinco, não importando se morreriam ou viveriam. Suas vidas se resumiam em servir seu mestre.

Essas criaturas são as que foram chamadas de Orcs, soldados leais do senhor do escuro Bóron, pois Bóron agora em nada lembrava quem era anteriormente e não amava mais a luz, mas preferia a escuridão, e com as coisas bonitas não tinha mais apego, mas se contentava com feras e orcs, rochas e metais, coisas aterrorizantes. Embora os elfos tenham desenvolvido sua própria magia, fruto do poder dado pelos seus criadores, Bóron a usava de modo vil e associado aos novos poderes que adquiriu dos Víroks, porque, na verdade, era agora um híbrido elfo-Vírok.

Então começou a fazer grandes maldades, tendo trazido a si todas as feras deixadas pelos Víroks começou a trabalhar nelas, as deixando mais temíveis. Convocou os trolls, também criação dos Víroks, para comporem seu exército do mal e agora tinha grandes lagartos, dragões, trolls, orcs e outras feras a sua disposição. Seu ódio pelos anões e homens continuava forte, mas agora odiava mais veemente os elfos, pois estes representam tudo o que ele não é, eles procedem da luz, mas Bóron agora faz parte da escuridão e é a escuridão, deseja trazer a escuridão sobre o mundo.

Os orcs se reproduzem rapidamente como praga, e muito metal é derretido na grande forja de Bóron para suprir suas forças com espadas, escudos, armaduras, catapultas e aríetes. Enquanto Bóron está ocupado manipulando suas feras e aumentando sua força dentro da cadeia de cavernas das montanhas, os homens, elfos e anões gozam de um período de tranquilidade, pois agora mantém forças patrulhando as áreas de seus reinos e rechaçam qualquer ameaça que se aproxime, feras, trolls ou orcs, pois de fato não atacam com força total, mas sempre em pequenos grupos.

Os homens progrediram muito desde então, suas moradas são simples frente aos elfos e as grandes mansões encrustadas nas rochas dos anões, mas muito sabem sobre pesca, agricultura, feitios manuais e todo conhecimento adquirido com os elfos e anões foram agregados aos seus conhecimentos próprios. Eram temíveis caçadores e, no que tange a caçar as feras de Bóron, os homens o fazem melhor que todos. Grandes guerreiros formaram, Inieval e Naeval são grandes senhores dos homens e suas casas produziram grandes líderes que tomavam a frente em defender o povo e em manter a terra segura. Destes, Iorgson era o mais próximo de Inieval e Naeval, sendo o terceiro maior do reino dos homens, habitantes da cidade de Cirtan. Com a saída de Bóron do meio dos elfos, os homens se aproximaram mais dos elfos e não raro faziam coisas juntos, e os anões se ressentiam, pois por causa disso confiava cada vez menos nos homens.

Uma das maiores revoltas por parte de Bóron quando ainda aconselhava seu pai era o casamento entre as raças, pois de fato a primeira vez em que isso ocorreu Bóron ainda habitava Decáris, quando um elfo tomou uma mulher dentre os homens como sua esposa. Mas agora isso era mais normal do que o esperado e deu início aos chamados meio-elfos, sendo Yksin o mais famoso.

Inieval e uma pequena comitiva de homens adentraram a floresta e em uma missão desbravadora, se embrenharam nas profundezas da floresta, território antes nunca visitado por homens, anões ou elfos, mas o que não perceberam era que estavam sendo seguidos por algumas feras de Bóron, uns poucos orcs, lobos de carapaça e grandes lagartos.

Estas criaturas malignas os seguiam furtivamente e esperavam atacá-los de surpresa. Assim, quando chegaram a determinado limite numa clareira e pararam para beber água e comer, a comitiva dos homens foi atacada e tão logo puseram-se de pé para se defender, mas o ataque vinha de todos os lados. Os homens lutavam bravamente, mas um dragão voando chegou por ali, colocando os homens em muita desvantagem e, com suas garras, alçavam homens a grandes alturas e depois os soltavam para morrerem na queda, com voos rasantes espalhavam os homens que resistiam com suas lanças e alabardas, mas difícil era causar dano fatal naquela criatura.

Ora os homens cercados não conseguiam bater em retirada, mas, quando tudo parecia perdido, uma grande ajuda veio e, quando o dragão em um de seus voos rasantes desceu, de dentro da floresta veio rápido como um raio Zilroth, o grande tigre, e saltando pegou o dragão, trazendo-o ao solo e ali os dois contenderam até que Zilroth o abocanhando no pescoço o abateu. Os companheiros de Zilroth se encarregaram dos grandes lagartos, dos orcs e lobos de carapaça, e os homens também não ficaram parados, assim, as forças de Bóron ali foram de todo exterminadas.

Com todas as criaturas malignas de Bóron caídas e mortas, os homens agora contemplavam os enormes tigres com admiração e temor, pois temiam que agora se voltassem contra eles, mas Zilroth se aproximando vagarosamente de Inieval, se abaixou e se recostou tal como os pequenos felinos fazem e, numa atitude temerária e impensada de Inieval, pois este ímpeto foi mais forte que ele, estendeu sua mão e acariciou a cabeça de Zilroth, que pareceu gostar do afago.

De fato, esses enormes tigres eram criações dos chamados “Os Cientistas” e por isso tinham em seu instinto sujeição e devoção aos humanos e elfos. Embora não houvesse comunicação verbal entre eles, a recíproca entre homens e tigres era perfeitamente sincrônica e entre eles havia entendimento. Alguns meses após esse acontecimento, Micras, Nalon e Fuindilas dão uma festa e muitos dos homens são convidados, a cidade de Decáris fica cheia e muita alegria há entre elfos e humanos.

As lindas senhoras da floresta com seus cantos e as danças das jovens alegravam o ambiente, enquanto menestréis cantavam e tocavam suas harpas. Todos se divertiam quando uma figura suspeita aparece em meio ao povo reunido, ninguém sabia quem era aquela figura, pois estava vestida de preto e com um capuz sobre a cabeça. Alguns imaginavam ser algum homem que, por ter uma doença ou defeito congênito, escondia sua face, mas algo de sinistro havia em torno daquela figura.

Foi então que, tendo esta figura estado no centro da praça, subiu acima da fonte de prata e o contraste entre sua figura negra e a fonte prateada e reluzente chamou a atenção de muitos, assim as músicas pararam e a figura disse: “Eu sou agora o senhor deste mundo e quem quiser a mim se unir receberá seu quinhão, mas a quem a mim não se juntar sofrerá”! E muitos se perguntavam: “Quem é este”? Pois não sabiam. Mas então, tirando o capuz e revelando sua face agora com aparência terrível, fosca e enegrecida, joga seu manto sobre a multidão e diz: “Quando me vir de novo, Bóron o senhor deste mundo e comandante da escuridão, não tereis mais chance de ao meu lado ficar”!

E assim Ivagavon, um pavoroso dragão, desceu dos céus e montando nele Bóron voou para fora de Decáris. Tanto os elfos como os homens ficaram perturbados e não discerniam como aquilo era possível, debatiam porque ele estava dizendo ser o senhor do mundo e como seria possível Bóron ter se tornado aquela criatura, pois não entendiam como poderia ele ter perdido sua luz e brilho. Mas o fato era que um grande mal tinha se revelado.

Depois deste incidente, tanto homens como elfos reforçaram seus armamentos, suas armaduras, as defesas de suas cidades e mais homens e elfos foram treinados para batalha, nesta época as lâminas mais famosas dos elfos e dos homens foram forjadas. Tendo passado vários anos deste episódio e sem Bóron aparecer às vistas, os elfos e os homens ficaram em dúvida se de fato Bóron falara a verdade, ou estava blefando.

 

Sobre o Autor:

Brasileiro, taubateano e descendente de italianos, Igor Demerval David (I. D. D. David) é formado em administração de empresas e graduando em educação física, servidor publico municipal, e praticante de karatê, apaixonado por literatura contextualizada em ambientes medievais ou análogos, principalmente as obras de J. R. R. Tolkien.

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