Lá estava eu, fascinado pelas ruas do Leblon! Entrava de rua em rua, de calçada em calçada, observando aqueles prédios enormes. A cada lugar que passava, tinha pessoas com seus cachorros de marcas, desfilando nas calçadas daquele lugar. Eu, alucinado por todo aquele esplendor, cumprimentava a todos.
“Bom dia, senhora”, falei, ela, meio que assustada, fingiu que não tinha ouvido... “Está um lindo dia hoje, né?” e a peste da velha fingiu, novamente, que não era com ela.
“Será que ela é surda?” pensei.
Um homem vinha em nossa direção, ele estava com roupa de ginástica, “deve estar caminhando” pensei novamente.
“Bom dia, Dona Tereza”, o rapaz falou.
“Bom dia, Doutor”, a velha respondeu.
“Essa velha tá de sarro com minha cara!” pensei.
“Dona Tereza, a senhora poderia me dizer a hora?” perguntei.
“São oito e meia” respondeu, sem ao menos olhar a hora, e se afastou mais um pouco.
“Obrigado, dona Tereza! Deus lhe pague!” falei.
“Essa velha está tirando uma com a minha cara!” pensei, olhando fixamente pra cara dela e ela rapidamente segurou sua bolsa.
“Dona Tereza, a senhora mora aqui por perto?” perguntei.
“Sim, Sim, moro. MORO COM MEU FILHO POLICIAL!” respondeu.
Essa velha está achando que eu sou ladrão!
Já puto com ela, pensei “Vou tirar uma com a cara dessa velha”.
“Que legal! Eu não sou daqui não, eu moro no alemão, mas é domingo e quis conhecer esses lugares aqui!” falei.
A velha nada respondeu, mas segurou a bolsa mais forte, quase quebrando a alça.
“Socorro! Ladrão!” a velha gritou!
“Essa velha só pode está de sacanagem pro meu lado!” pensei.
“Calma senhora! Não sou ladrão não!” falei.
“Socorro! Ladrão!” a velha não parava de gritar, e as pessoas não paravam de chegar.
“Socorro! Ladrão!” a velha não parava de gritar, e o povo já começava a fazer um círculo a nossa volta.
“Socorro! Ladrão!” e a velha não parava de gritar!
E o povo já pegava pau, pedra, barra de ferro, celular pra filmar, pra polícia ligar.
Só porque essa porra surtou e não parava de gritar...
Sobre o Autor:
Pernambucano, ator, produtor cultural e escritor, Luiz Alladin escreve versos desde a infância, influenciado pela família, mas entrou de cabeça mesmo na literatura quando largou a faculdade de ciências contábeis e começou a frequentar os saraus. Hoje ele se dedica em escrever seus textos e a produzir eventos culturais na região onde vive, no interior de Pernambuco, preservando espaços de cultura de resistência.
Revisão: Hellen Heveny
Em poucas palavras, o retrato de uma triste realidade... Excelente, como sempre!