Padre Fábio Santos é o pároco da Igreja Nossa Senhora da Conceição, na pequena cidade de Divindade. É uma cidade de cinco mil habitantes, com apenas seis ruas asfaltadas e uma praça – na qual se localiza a igreja. A maior parte da cidade é formada por chácaras e fazendas. Toda a população tem um carinho enorme pelo vigário, que é sempre atencioso com todo mundo e também atende a seus pedidos, junto ao prefeito de Divindade, Doutor Marco Paz. Nos meses de dezembro e janeiro, a cidade fica movimentada com a festa de Nossa Senhora e, por conta das férias, os turistas vem aproveitar o dia oito de dezembro e ficam para descansar.
Geralmente, são as mesmas pessoas vindas das cidades grandes mais próximas, que ficam na cidade de Divindade. Mas, desta vez, apareceu um punhado de turistas que nunca havia visitado a cidade e souberam da tradicional tranquilidade e dos festejos. Em um sábado de manhã ensolarada, a cidade amanheceu muito mais tranquila que o habitual. O sino não tocou às seis da manhã.
Agenor estranhou:
– Vou à igreja verificar o sino, algo está muito esquisito!
Eis que o rapaz chega à praça e vê a porta da igreja escancarada. Desconfiou, pois Padre Fábio só abria, todas as manhãs, às sete e meia. O rapaz entrou e notou o silêncio estarrecedor. As luzes estavam todas apagadas e só as velas do altar acesas. Agenor chamava pelo Padre Fábio, mas nenhuma resposta. Foi até o salão da paróquia, nos fundos do templo e nada do padre, nem ninguém.
Chegou ao escritório, que ficava ao lado do salão, nada. Mas estava tudo bagunçado, haviam muitos papéis e documentos espalhados pelo chão. Agenor juntou tudo rapidamente e ajeitou na mesa, onde viu um recado escrito em um papel, com letras de forma. Dizia o recado: Estou com o Padre Fábio, aqui mesmo na cidade. Não ousem chamar a polícia. Às nove, ligarei para o número da paróquia e direi o que quero para liberá-lo.
O rapaz não sabia como ajudar. Não queria alarmar a cidade inteira para que a polícia não entrasse no caso e algo de ruim acontecesse com o vigário. Olhou então para o relógio, que marcava oito e vinte. Resolveu esperar ali mesmo, já que no bilhete dizia que ligariam às nove.
O telefone tocou. Agenor atendeu, bastante tenso:
– Alô?
– Escute apenas! Quero a batina do padre, seis velas, uma marmita com feijão e farinha, além de uma garrafa de água. Deixe tudo em cima da mesinha. Só assim libero o padre.
– Quem é você? Cadê o Padre Fábio? – Questionou Agenor.
– Fique quieto. E nada de avisar à polícia ou a qualquer pessoa. – Disse, desligando logo depois.
Em apenas uma hora, ele preparou tudo. A batina estava perfeita em uma mochila. A marmita, embrulhada em um papel, foi colocada em um saco plástico. Eram dez em ponto. O telefone tocou e o rapaz perguntou se estava tudo pronto, Agenor confirmou. Então, o rapaz falou para esperar nos fundos da igreja, que ele iria chegar com o padre. Ele arrumou tudo com muito capricho e deixou na mesinha perto da porta por onde iriam chegar. Para a surpresa de Agenor, chegou o Padre Fábio com o Cardeal Bartolomeu.
O padre riu e disse:
– Agenor, fui buscar o cardeal. Saí muito cedo e não consegui avisar ninguém. Eu sabia que você desconfiaria e resolvi pregar-lhe uma peça!
– Padre, quase morri do coração! Que susto! – Respondeu Agenor, rindo da situação.
– Desculpe, Agenor! Mas parece que tu não te lembras de minhas brincadeiras! – Disse o padre, com um largo sorriso no rosto.
E todos deram uma grande risada.
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