Com dezessete anos chegou a são Paulo, veio do Pernambuco, Ceará, Paraíba, não sei o certo, mas veio lá de riba. Arrumou emprego. Cavou buraco, traçou cimento, nas costas areia levou mais de um saco, com dor e sacrifício, mas no fim aguentou. O primeiro salário mandou pra família, ainda sobraram uns trocados pra dar no aluguel e passear um pouco naquela maravilha. Foi pro forró, ao museu, foi à liberdade conhecer novas culturas, mas nada foi mais bonito que os olhos da menina do Ibirapuera. Com o passar do tempo com ela se casou, foi um mês, dois meses, seis meses de muita paquera e quando se apaixona não há quem espera. Minha mãe! Aqui é mais bonito que você pensa, já estou casado, apaixonado! Um abraço, xero e bença!
A crise chegou e ficou sem emprego, mas catou latinha, vendeu tudo que tinha. Só não roubou. Pois aquela moça casou com homem trabalhador. Nesse meio tempo a moça engravidou, foi erro de tabela, não sei se foi dele ou dela, agora não importa, vai chegar mais duas bocas. Aí meu senhor! Nessa agonia nove meses passaram, as crianças nasceram forte, trazendo sorte, pra matar a saudade deu os nomes de Tereza e Amaro, a homenagem aos seus pais ofereceu.
Ainda conseguiu serviço, em um edifício, que felicidade imensa. As coisas melhoraram, no prédio subia e descia, mas de uma vez por dia, ele sorria e dava bom dia, e as vezes os doutores correspondia e na casa a mesa estava cheia, com alegria.
O comer a mulher fazia, quando os as crianças brincavam no corredor. É meu pai, é mais doído que o senhor falou! Agora eu sou pai, como senhor é meu pai, aí que saudade imensa!
Um abraço, xero e bença!
Com vinte anos de casados, as brigas chegaram, era disso e aquilo, hoje dorme um em cada lado. As crianças já estão bem grandes, e já estão quase formados, um quer ser isso o outro aquilo, mas com o salário é difícil ajuda-los, e naquele edifício está um corta isso, que no seguro desemprego estou. Novamente as coisas vão apertando, a mulher brigando, e no meu juízo, louco estou. E na cachaça o amor acabou, a mulher foi embora, sem dizer a hora, e agora sozinho estou. É trinta e sete anos de partida, a saudade é uma ferida que o tempo cortou. É meus pais, que agonia que saudade intensa! Agora estou perdido, no meio desses edifícios.
Um abraço, xero e bença!
Sobre o Autor:
Pernambucano, ator, produtor cultural e escritor, Luiz Alladin escreve versos desde a infância, influenciado pela família, mas entrou de cabeça mesmo na literatura quando largou a faculdade de ciências contábeis e começou a frequentar os saraus. Hoje ele se dedica em escrever seus textos e a produzir eventos culturais na região onde vive, no interior de Pernambuco, preservando espaços de cultura de resistência.
Revisão: Tatiana Iegoroff
Esse conto envolve a gente de uma maneira que não dá para explicar. Real, direto, tocante.