Os dias passavam sem a certeza de algum envolvimento entre os fios da meada que Elisa encontrara e tentava retrançar. As tardes na delegacia não faziam sentido. Procurava algo que fizesse uma ligação mais concreta para que pudesse dar segmento a algo mais estruturado.
Os casos corriam e o arquivo só enchia de boletins e inquéritos de casos de simples falta de cordialidade. A ganância dos fazendeiros em mudar cercas de lugar, confusões de análises mínimas, mas que caíam nos afazeres da delegada.
Danilo entrou na sala, como de costume, com a garrafa de café cheia, mas dessa vez trazia também um pequeno pacote nas mãos e colocou em cima da mesa de Elisa.
— O que é isso, Tavares?
— Seu Saulo. Me encontrou vindo pra cá e mandou te entregar.
Abriu o pacote e viu a caixa de chocolates.
— Ah, só o que me faltava.
— Acho que ele quis agradar. Ontem a senhora correu com ele daqui em duas frases.
— Nada me tira da cabeça que ele está metido nessa loucura toda. E eu vou descobrir o que é.
— Já conseguiu algo a mais pra ligar os homens das tatuagens?
— Nada. Virei de cabo a rabo as fichas, notícias. Se pelo menos eu pudesse...— Calou-se e baixou a cabeça, engolindo um soluço.
— O que foi, delegada?
— Nada, Tavares. É que, só meu pai ia poder me ajudar.
— É. O seu Rubem ia saber. Ele conhecia tudo desses marginais da cidade. Ali era delegado de respeito... não que você não seja— Disse, gaguejando.
— Eu entendi, Tavares. Ele era mesmo. Mas esse conhecimento todo teve um preço.
— É... E você está indo pelo mesmo caminho.
— E isso é bom ou ruim?
— Depende. O bom é que é um caminho certo a seguir... o ruim é que o fim não é o justo, mas a gente já sabe.
— Esses caras são uns covardes. Ele já estava pra se aposentar...
— Então vai ter que usar uma estratégia diferente.
— Você acha que eu consigo continuar o legado dele?
— Não sei se isso é o mais certo a pensar. Capacidade a gente vê que a senhora tem… a mesma garra que ele. Só vai precisar de mais calma.
— Quantos anos você tem, Tavares?
— Vinte e um, por quê?
— Nada. Só que… você está me ajudando mais que os investigadores.
— Tive com quem aprender… foi um tempo curto com o delegado Lucena, mas deu pra sacar algumas coisas dele… e ainda estou aprendendo, com a continuação do trabalho dele. A senhora vai conseguir.
— Deus te ouça, Tavares. Agora joga esse chocolate no lixo e chama o doutor Saulo pra mim.
Dois minutos depois, o estagiário retornou.
— Delegada, a secretária desse que ele não está. Foi para uma reunião com o prefeito.
— Prefeito? E que assunto ele tem pra tratar com o prefeito?
— Alguma desconfiança?
— Puxa a ficha do prefeito agora.
Capixaba natural de Ecoporanga, atualmente residindo em Feira de Santana-BA; estudante de Pedagogia, escreve desde criança. Apaixonado por café, criança, história, arte e cultura brasileira. A Arte de Viver foi sua primeira novela publicada, além da coletânea Contos Oh! Ríveis, de humor, estando presente em coletâneas de contos e poemas do Projeto Apparere e contos disponibilizados na Amazon.
O gênero policial vem sendo seu novo foco na escrita, explorando a temática familiar, um prato cheio para discutir as relações da sociedade e refletir sobre as atitudes passionais.
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