Saindo da delegacia, Elisa e Danilo foram ao encontro de dona Sandra.
— Mãe, eu e o Tavares queremos que a senhora analise um contrato.
— Que contrato, filha?
— Esse. — Disse, entregando a pasta nas mãos da mãe.
Dona Sandra, ao abrir a pasta, deixou uma microexpressão de surpresa e medo escapar em seu rosto vincado.
— Onde acharam isso?
— Aqui, no escritório do meu pai. Tem os dados do Saulo e desse tal de Jordi, que foi morto hoje na fazenda do prefeito.
— E o que isso tem a ver com o Saulo e o tal defunto?
— É o que queremos saber, por isso trouxemos o contrato. A senhora sempre foi acostumada com esse tipo de documento a vida inteira.
A velha advogada colocou os óculos no rosto e começou a ler as frases do papel. Enquanto lia fazia mínimos sons e levantava as sobrancelhas. Depois de mais de cinco minutos disse algo compreensível.
— Nada de mais. Só um contrato de serviço comum.
— Mas que serviço?
— De advocacia, uai. O tal Jordi contratou o Saulo.
— Tá, mas como? Quando? Por quê?
— Elisa, é só um papel burocrático. Não tem nada de anormal.
— Ele não parecia o tipo de pessoa que precisaria de advogado.
— Todo mundo precisa de um advogado uma vez na vida. Não precisa ter cara.
— E que nervosismo é esse, dona Sandra. Parece até que está se defendendo.
— Não é isso, Elisa. Eu só estou dizendo que não tem nada de mais nesse papel, só isso.
— Pode até ser, mas o que diabos isso estava caçando aqui em casa no meio das coisas do meu pai?
— Ah, eu sei lá. Deve que o Saulo quando namorava você esqueceu por aí. Ele dormia aqui quase todo dia, vinha direto do escritório pra cá.
— Mas a data é mais recente, depois de eu ir embora.
— Eu já disse o que tinha que dizer, não tenho nada a ver com isso e você também não.
— Claro que tenho, eu sou a delegada. Tenho que saber o que...
— O que? O que o Saulo tem a ver com o cara morto? Está achando que ele matou também?
— Por que a senhora defende tanto ele?
— Porque você deixou ele no cartório pra fugir pra um concurso da polícia e até hoje não tomou vergonha na cara pra virar uma mulher de verdade e se casar e formar uma família.
— De que diabos está falando, mãe? Pelo amor de Deus, tudo a senhora tem que jogar na minha cara que não gosta do que eu sou, mas eu já disse: a senhora querendo ou não, essa sou eu.
— E vai ser assim pro resto da vida? Pelo visto eu vou morrer sem um neto.
Ao ouvir a última frase Elisa apenas se levantou e saiu da casa. Danilo foi atrás dela, que entrou no carro e arrancou sem esperar o estagiário acabar de fechar a porta. Subiu a avenida Milton Motta e seguiu sem rumo certo, as lágrimas escorrendo pelo rosto.
Sobre o Autor:
Capixaba natural de Ecoporanga, atualmente residindo em Feira de Santana-BA; estudante de Pedagogia, escreve desde criança. Apaixonado por café, criança, história, arte e cultura brasileira. A Arte de Viver foi sua primeira novela publicada, além da coletânea Contos Oh! Ríveis, de humor, estando presente em coletâneas de contos e poemas do Projeto Apparere e contos disponibilizados na Amazon.
O gênero policial vem sendo seu novo foco na escrita, explorando a temática familiar, um prato cheio para discutir as relações da sociedade e refletir sobre as atitudes passionais.
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