Elisa, Gomes e Saldanha entraram à rua avistando a troca de tiros. A delegada logo atirou contra os homens na varanda do sobrado.
Os tiros cessaram e, do portão do sobrado, saiu um homem com Carla, ofegante e rendida, em frente ao corpo. As armas apontadas não intimidaram o calvo, que apontou com a arma para os parceiros nas janelas vizinhas. Elisa seguiu o cano da arma.
— Acho que a delegada vai querer a companheira de volta. Seguinte, só um aviso pra tu entender quem está no comando aqui.
— Quem é você?
— Grava bem essa cara, que aqui eu não me escondo. Agora volta pra tua delegacia e vai cuidar dos pormenor.
Carla, ainda ofegante e com o suor escorrendo pela testa, chutou a canela do homem que a segurava e, num reflexo, ele apertou o gatilho e atingiu o braço da investigadora.
Elisa logo ordenou a Gomes e Saldanha que socorressem a colega. As armas nas janelas sumiram, assim como o branco calvo. O caminho até o hospital foi ligeiro e, enquanto Carla era atendida, Elisa rodava na recepção com a indignação estampada no rosto marcado pelo suor e o batom pedindo retoque.
O dia seguinte iniciou-se com a tensão da cabeça de Elisa sendo interrompida pelo cafezinho do estagiário.
— Hoje está quente, acabei de fazer. — Disse Danilo, enquanto colocava a garrafa no balcão do canto da sala.
— Quente está é minha cabeça, Tavares. Não sei o que está acontecendo nessa cidade.
— Criminalidade só aumenta. Nem cidade pequena se livra mais.
— Não sei não. Pra mim isso é mais do que parece.
— Como assim?
— Esse pessoal não está sozinho, Tavares.
— Ah, eu consegui no arquivo alguns boletins pra você analisar, como pediu ontem.
— Traga pra mim, por favor.
Durante duas horas o relógio rodou ao passo de observações dos boletins, fotos e arquivos de passagens. A quantidade de fichas e papeis sobre a mesa bagunçada ultrapassava as contas de Elisa. Danilo, a cada meia hora, voltava com mais registros, e a delegada estava quase encerrando a atividade quando encontrou uma singularidade entre dois antigos reclusos.
— Tavares, que tatuagem é essa?
— Sei lá, esses bandidinhos riscam o corpo com qualquer coisa.
— Mas os dois tem a mesma tatuagem, olha.
— Se parecem mesmo. Lembra um cupido. Ah, mas aqui só tem um tatuador, ele deve não saber fazer muito desenho diferente.
— Pesquisa que imagem é essa.
O estagiário voltou à sua mesa com as fotos e a pesquisa foi intensa. Retornou à sala da delegada com um impresso novo.
— Delegada, vê se parece com essa que eu imprimi? Pelo que vi, pode ser um cupido mesmo. Mas esse que imprimi é um deus da mitologia. Anteros.
— Ah, só podia ser.
— Eu não conhecia esse.
— E você entende de mitologia, Tavares?
— Ah, eu gostava de Percy Jackson na época de escola.
— Que isso?
— São séries de livros sobre um personagem semideus que...
— Pode deixar a explicação pra depois. Me fala só do que achou agora.
— Anteros é o Deus da desilusão, ordens, manipulação, amor correspondido e não-correspondido, da antipatia, da aversão, que desune, separa, desagrega.
— Diacho.
— Ele é filho de...
— Tavares, não precisa dar a enciclopédia toda. Só isso aí já me acendeu uma luz.
Capixaba natural de Ecoporanga, atualmente residindo em Feira de Santana-BA; estudante de Pedagogia, escreve desde criança. Apaixonado por café, criança, história, arte e cultura brasileira. A Arte de Viver foi sua primeira novela publicada, além da coletânea Contos Oh! Ríveis, de humor, estando presente em coletâneas de contos e poemas do Projeto Apparere e contos disponibilizados na Amazon.
O gênero policial vem sendo seu novo foco na escrita, explorando a temática familiar, um prato cheio para discutir as relações da sociedade e refletir sobre as atitudes passionais.
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