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Foto do escritorGabrielly Hannaly

TRINTA E UM DIAS - Parte 1 (Bernardo) - 6º dia

Capitulo Parte I BERNARDO

Sexto dia - Nem todas as palavras do mundo responderiam

São realmente diferentes, quero dizer, de uma pessoa para outra, porque vivo me questionando incessantemente como alguém pode continuar correndo atrás de um amor ou de uma amizade ou até mesmo de calor, sem que seja efetivamente aquecido, amado ou amigo!

Certa vez, em uma conversa com um amigo meu, questionei porque as pessoas têm a mania incessante de correr atrás daquilo que as fere. Ele sutilmente me respondeu que é melhor correr atrás de algo mesmo que isso te faça mal do que aceitar a existência do nada. Então recorreu-me o pensamento daquela frase popularmente conhecida: ”quem não ouve a melodia acha louco aquele que dança”. Minha paráfrase fica um pouco confusa, mas é exatamente isso que a frase quer dizer, então eu acho que parei de ouvir a música e, por isso, quando olho para aqueles que estão se ferindo, correndo atrás de outra pessoa, não consigo entender o motivo, eu os acho loucos, completamente perdidos.

Contudo, bem no meu íntimo, sei que em algum momento eu ouvi a melodia e dancei conforme ela. Fiquei naquele ciclo vicioso pedindo, suplicando uma recíproca, querendo obtê-la por meio do meu próprio e único esforço. Algum dia eu devo ter amado com tanta intensidade que já não mais importava se havia ou não uma outra metade, em algum momento eu tentei amar por dois e descobri que esse é o pior jeito de se amar…

“Então essa é a parte em branco, não me lembro quando, no meio da praça decidi deixá-lo e abandonar o banco, levantar e ir embora sem olhar para trás, sem checar as horas, sem contar os anos, sem mais sentir os danos.

Apenas fui embora, deixando todo aquele meu amor sentado lá. Ele alimentava os pombos de forma tão focada que nem percebeu a minha nem um pouco sutil e silenciosa retirada… doeu-me o peito como se tivesse mil agulhas farpadas, cravadas sem a menor condescendência, ainda assim, naquele momento deixá-lo foi o melhor para mim.”


Esse foi o texto que eu li em algum lugar e não me lembro onde ou quando, mas recordei linha por linha e parágrafo por parágrafo, ainda que desse jeito confuso e meio deslocado. Lembrei-me deste pequeno trecho ao observar, na fila do mercado, um casal, um casal que, em poucas palavras e à primeira vista, lembrou-me de forma tão prepotente aquelas palavras que um dia foram por meus olhos lidas, sobre como o amor pode existir e também terminar na própria decisão da partida.

Olhando o homem com sinais visíveis de vida difícil, segurar em punho uma garrafa de pinga, por um momento achei que ele estava sozinho e que se passava de mais uma pessoa buscando aplacar as dores da alma, então ele levanta os olhos e encara a mulher que estava à sua frente, indiferente à presença dele. Imaginei que perguntaria alguma coisa, quando ele disse, olhando para a mulher e fazendo o gesto com o indicador e o polegar:

¾ Eu... Eu só vou beber um “pouquinho”.

Ela assentiu sem dizer uma única palavra. Tinha cabelos loiros amarelados, usava calça jeans e uma camisa velha de botões, calçava chinelos e aguardava naquela fila com o marido. Suas compras eram verduras, pães e iogurte o que fez-me pensar que eles deveriam ter filhos. Ela segurava toda a mercadoria sozinha, sem a ajuda de uma cesta ou do próprio homem que dignou-se apenas a levar a garrafa e a carregá-la como se fosse a coisa mais preciosa de sua vida, algo me fez pensar que aquela mulher não se incomodava com o peso das compras, pois já havia suportado peso pior. Vi os dois pagarem e saírem do mercado, o homem com sua garrafa e a esposa com todas as sacolas.

Por que as pessoas insistem em insistir? O amor tudo suporta? Acho que alguns desgastes são inevitáveis, mas também ouso afirmar que algumas escolhas devem ser prioridade, amar alguém não é o mesmo que perder-se ou tornar-se refém, recordei aquele texto porque imaginei que pessoas como aquela mulher deveriam ser seu público-alvo, mas também cheguei à conclusão de que algumas pessoas nunca chegam a ler verdades, pois estão ocupadas demais tentando suportar e lidar com a própria e única realidade. Mesmo assim...

Por que?

“Alguns amores foram tão gastos, insistentes e exaustos que tornaram os corações dependentes, intoxicados. Porque no fim nem todos querem ser salvos”.

 

Sobre a Autora:

Uma autora independente que gosta de escrever tanto quanto de respirar, participou de varias antologias e foi uma das dez finalistas no concurso "cuenta me un cuento" de 2020. Também participou da antologia anjos caidos da dar books, onde o livro esta na amazon com o conto intitulado: "o testemunho de Delphin". Foi selecionada para o a antologia Teleportados com o conto: " Por de trás da pálpebras", no entanto não participou na formação do livro. Uma escritora inovadora, aspirante a poeta e muito concentrada em sempre dar o seu melhor, buscando uma oportunidade de provar o valor de suas palavras.


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