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Foto do escritorGabrielly Hannaly

TRINTA E UM DIAS - Parte I (Bernardo) - 1º dia

Capitulo Parte I BERNARDO

Primeiro dia

Hoje choveu, não como aquelas chuvas corriqueiras que vem e passam sem nem ao menos serem notadas, choveu de rompante, pegando-me de surpresa. Vi algo estranhamente em comum entre a chuva e meu estado emocional do dia: ambos precipitaram como se não se aguentassem mais. A chuva caiu como se estivesse por eras recolhida, em um rompante de gotículas que caem sem a menor delicadeza, mostrava, em tom solene, como ela aguentou por tanto tempo, mas no fim rompeu tudo, como um dique que cede. Eu sou como a chuva: não precipito, mas cedo!

Estava sentindo-me acumulado, como se estivesse abraçado com um enorme pedregulho que, no fim das contas, era somente um pedregulho, contudo, para mim, tinha um peso desconhecido, um incômodo inimaginável. Estava ofegante de tanto carregá-lo e, mesmo assim, ouvi eles falarem:

“Uma coisa tão pequena, você consegue, seja forte”.

“Não se deixe abalar por uma coisinha dessas”.

“Isso vai dar-te mais forças”.

A coisa pequena arrancava-me o sossego e não importa o tamanho e sim o acúmulo. Eu estava sendo forte por muito tempo, por todo esse tempo, sem eles perceberem… E isso não estava dando-me forças e sim arrancando-me suspiros ofegantes e lá estava eu, esvaindo-me enquanto todos achavam que era somente um pequeno, inútil, frágil, insignificante, inofensivo pedregulho!

As coisas são passageiras, assim como a vida também é. Somos constantemente surpreendidos por um futuro que desconhecemos. Alguns, andam cegos e perdidos pelo mundo, caminham buscando tatear o próprio destino, como se o toque, o sentido, fosse suficiente para colocarmo-nos cientes das curvas que a própria vida dá. Faz algum tempo desde que parei para conjecturar sobre a inconstância dos acontecimentos, algumas coisas somente são entendidas depois que as perdemos, ou quando as revivemos porém de um modo diverso do anterior, assim são às perdas: algumas somente serão sentidas quando ocorrer e outras serão sentidas intensamente pelo medo de se tornarem presentes.

Você mesmo deve ter passado por um mesmo lugar em sua vida uma dúzia de vezes, mas somente valorou aquele momento pequeno, quando incorreu em um outro, decerto mais gravoso ou menos intenso. Assim eram os meus dois vizinhos, ambos de idade, dois senhores que conviviam juntos e eu sempre os observava. Caminhavam até o ponto de ônibus, sentavam e observavam as pessoas em suas rotinas agitadas. Eles se olhavam calorosamente e também jogavam cartas no parque a frente, sempre juntos e sempre reluzentes. Quantas vezes culminaram naquele mesmo percurso e quantas vezes ele fora completamente diferente das ulteriores, aqueles dois senhores eram meu modelo de que a felicidade não tem forma, não tem jeito e não tem hora, ela apenas acontece e é diferente de pessoa para pessoa. Eles se pertenciam porque se queriam e se bastavam, talvez um outro alguém não compreenda e nem ao menos entenda, contudo vendo aquela forma de amor sem nenhum receio, tinha a minha definição de mundo perfeito!

Voltando aos momentos, imaginei, enquanto encarava o senhor Douglas, um dos vizinhos repousar suavemente a mão no banco do ponto de ônibus, onde, costumeiramente, dividia o acento com o seu parceiro, o senhor Alfredo. Quantas vezes eles estiveram juntos e de formas diferentes viveram um mesmo dia e hoje, lá estava apenas o senhor Douglas, após perder seu companheiro, sentado, esguelho e provavelmente recordando cada momento… É impressionante como um mesmo lugar pode despertar diferentes sentimentos: ontem era motivo de alegria e hoje é precursor da saudade. Por isso muitos caminham pela cidade passando por variados lugares, sem se atentarem para o percurso, o curso de seus passos, onde costumam parar, olhar, atravessar, hoje pode ser um contexto e amanhã, talvez para alguns caminhantes, o amanhã nem exista!

Então ocorreu-me o pensamento de que eu também era um deles e que talvez minha vida deveria ser melhor apreciada. Por certo deveria me aventurar em algumas estradas, ou valorizar as que já caminhara. Dirigindo-me ao parque, para pensar com mais coerência, após ser atingido pela chuva sem nenhuma clemência, procurei evitar os olhares internos e contei meus passos terrenos, busquei conforto em um caminho já percorrido e comecei a projetar novos lugares para se andar …

Acho que um grande aprendizado do dia de hoje foi: “alguns dias serão difíceis e alguns parecerão serem difíceis, é importante que saiba distinguir! Não se desgaste por aparências…”


 

Sobre a Autora:


Uma autora independente que gosta de escrever tanto quanto de respirar, participou de varias antologias e foi uma das dez finalistas no concurso "cuenta me un cuento" de 2020. Também participou da antologia anjos caidos da dar books, onde o livro esta na amazon com o conto intitulado: "o testemunho de Delphin". Foi selecionada para o a antologia Teleportados com o conto: " Por de trás da pálpebras", no entanto não participou na formação do livro. Uma escritora inovadora, aspirante a poeta e muito concentrada em sempre dar o seu melhor, buscando uma oportunidade de provar o valor de suas palavras.

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1 Comment


Luiz Rodriguez
Nov 15, 2020

Felicitaciones. Descreve con sutilieza o quanto a felicidade é sutil.

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