O asfalto está quente, ele está sob um semáforo, e sobre um "palco" de asfalto, no seu rosto, uma pintura de palhaço.
Sua plateia assiste suas piruetas enquanto o sinal não abre.
Seu "público" está em seus carros novos com vidros fechados. Parece até um útero de ferro, aconchegante, reluzente e refrigerado, mas não tão gelado quanto os corações que batem lá.
Mulheres e homens de pedra se impacientam com sinal ainda fechado!
Mas fazem de conta que só tem aquela luz menstruada que os retém...
Essa pintura no rosto deveria representar alegria e não o desconforto da miséria que o jogou nesse momento. Ter ao menos uma refeição por dia é um luxo, Enquanto alguns jogam comida na avenida… Eles são forçados a olhar pra frente, pra esse "inconveniente" que faz malabarismos pra sobreviver. Quem liga? Difícil encontrar essa tal de humanidade nesse mundo "humanizado"!
L.A.Sena, janeiro de 2019