Luiz Rodriguez

9 de out de 20201 min

Útero de ferro

O asfalto está quente, ele está sob um semáforo, e sobre um "palco" de asfalto, no seu rosto, uma pintura de palhaço.

Sua plateia assiste suas piruetas enquanto o sinal não abre.

Seu "público" está em seus carros novos com vidros fechados. Parece até um útero de ferro, aconchegante, reluzente e refrigerado, mas não tão gelado quanto os corações que batem lá.

Mulheres e homens de pedra se impacientam com sinal ainda fechado!

Mas fazem de conta que só tem aquela luz menstruada que os retém...

Essa pintura no rosto deveria representar alegria e não o desconforto da miséria que o jogou nesse momento. Ter ao menos uma refeição por dia é um luxo, Enquanto alguns jogam comida na avenida… Eles são forçados a olhar pra frente, pra esse "inconveniente" que faz malabarismos pra sobreviver. Quem liga? Difícil encontrar essa tal de humanidade nesse mundo "humanizado"!

L.A.Sena, janeiro de 2019

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