A gente se acostuma
Acostuma em esperar a noite
Pela mensagem fria
Pelos segundos da resposta,
Nascidas no copo de gelo
E como uma faca quente
Que rasga a manteiga
A gente se acostuma com isso
E aliviado vai dormir
Esperando a próxima noite chegar
A gente se acostuma
Com as notícias de morte do jornal
Como já jantamos com elas,
Dormimos com elas, acordamos com elas,
Então juntos passeamos aos domingos
Já estamos tão bem entrosados
Já somos como família
A gente se acostuma
Com os ônibus lotados, os metrôs aglomerados,
Veículos congestionados
Dentro de uma minúscula selva pedregosa
Estamos acostumados
Em enlatar nossas almas em caixões de metais
A gente se acostuma
Com o acostamento dos acostumados
Sempre na espera
Que abra uma brecha nessa rodovia
Mas ela está sempre cheia
Cheia de mais gente acostumada.
Sobre o Autor:
Pernambucano, ator, produtor cultural e escritor, Luiz Alladin escreve versos desde a infância, influenciado pela família, mas entrou de cabeça mesmo na literatura quando largou a faculdade de ciências contábeis e começou a frequentar os saraus. Hoje ele se dedica em escrever seus textos e a produzir eventos culturais na região onde vive, no interior de Pernambuco, preservando espaços de cultura de resistência.
Revisão do poema: Luiza Fernandes
A nossa salvação é a nossa desgraça! A humanidade, que só sobreviveu a tantas intempéries por se adaptar a qualquer situação, hoje poderia deixar todos os seus exemplares com uma tranquila fartura, sem que ninguém precisasse sacrificar o seu conforto... mas, ainda assim, essa fartura fica com uns, enquanto os demais seguem acostumados a todas as intempéries que a vida moderna lhes exige suportar!
Já se dizia a longo tempo. "Somos um produto do meio". Mas que miserável produto então somos, se o nosso costume é costurar os hábitos vulgares as nossas vestes!! Excelente versejar a lembrar-nos que se tudo é lícito, nem tudo nos convém. Vamos a frente, a escolher um mundo de justiça social e equilíbrio. Quem sabe quando, nossas cidades serão amigáveis a ponto de fazerem parte das nossas vidas boas. É não mais, um intróito amargo a esculpir em nossa memória apenas concreto, mendicância e pichações.!! Abraços e como o poeta que somos, sejamos garçons literários a ofertar um pouco de lúmen neste mundo tão cinzento!!!
Parabéns meu caro.
Ah esse costume! Que não nos deixa! Digo sempre que não me acostumo, queimo minha língua sempre a me acostumar! Devemos fugir deste! Gostei bem reflexivo!
Muito bom, Alladin! Parabéns!!