Princesa e boneca
Sem vestido rodado
Rodando
Minha pele sem bordado
Bordando
Uma caixa em que fui colocada
Rodando
Construída com minha autoestima
Bordando
Com minhas ilusões
Rodando
Eu era a princesa
Bordando
Uma falsa delicadeza
Rodando
Que me obrigaram a ter
Bordando
Uma versão de mim
Rodando
Agora era mesmo boneca
Bordando
Parecia humana com uma expressão
Rodando
Parecia viver com uma só face
Bordando
Parecia presa nessa embalagem
Rodando
Fui toda fabricada
Bordando
Colocaram-me em uma prateleira
Rodando
Era assim que me sentia
Bordando
Pois só assim explicaria
Rodando
Todos esses olhares que me deram
Bordando
Talvez eu seja um manequim
Rodando
Só assim explicaria
Bordando
Porque falam da minha roupa
Rodando
Princesa delicada e sensível é essa boneca
Bordando
Boneca delicada de uma sensível princesa
Rodando
Não me via
Bordando
Nem me sentia
Rodando
Nessa vida que fizeram
Bordando
Com retalhos de opiniões
Rodando
Em minha mente não eram minhas
Bordando
Eu nunca disse quem eu era
Rodando
Porque não sei quem sou
Bordando
Só não sou o que dizem
Rodando
Porque assim me sinto a Emília
Bordando
Porém, sem conseguir falar
Rodando
Daqui ninguém me ouve
Bordando
Ninguém me vê
Rodando
Mas escutam os fuxicos que me formaram
Bordando
Enxergam os retalhos de mim
Rodando
Sou um boneco espantalho
Bordando
Sou a formação malformada
Rodando
Uma princesa desencantada
Bordando
Sobre a Autora:
Autora baiana, Kananda Gomes começou a escrever quando criança e não parou mais. Além de escritora também é estudante de Museologia na UFBA e criadora da página no Instagram @eu.e.minhas.ironias onde compartilha diversos textos com seus seguidores leitores.
Revisão: Karla Gama
Que lindo poema, musical e verdadeiro! Parabéns!
Kananda, que maravilhosa!! Neste sistema patriarcal a qual estamos inseridas, somos realmente como bonecas, rodando e sendo construídas para a delicadeza, maternidade e doçura, mas que possamos estar unidas para bordar nosso destino na esperança de Dias MULHERES! A primavera chegará! Xêro bem grande =)