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Eu, boneca


Foto de Xinyi Song (unsplash)

Princesa e boneca

Sem vestido rodado

Rodando

Minha pele sem bordado

Bordando

Uma caixa em que fui colocada

Rodando

Construída com minha autoestima

Bordando

Com minhas ilusões

Rodando

Eu era a princesa

Bordando

Uma falsa delicadeza

Rodando

Que me obrigaram a ter

Bordando

Uma versão de mim

Rodando

Agora era mesmo boneca

Bordando

Parecia humana com uma expressão

Rodando

Parecia viver com uma só face

Bordando

Parecia presa nessa embalagem

Rodando

Fui toda fabricada

Bordando

Colocaram-me em uma prateleira

Rodando

Era assim que me sentia

Bordando

Pois só assim explicaria

Rodando

Todos esses olhares que me deram

Bordando

Talvez eu seja um manequim

Rodando

Só assim explicaria

Bordando

Porque falam da minha roupa

Rodando

Princesa delicada e sensível é essa boneca

Bordando

Boneca delicada de uma sensível princesa

Rodando

Não me via

Bordando

Nem me sentia

Rodando

Nessa vida que fizeram

Bordando

Com retalhos de opiniões

Rodando

Em minha mente não eram minhas

Bordando

Eu nunca disse quem eu era

Rodando

Porque não sei quem sou

Bordando

Só não sou o que dizem

Rodando

Porque assim me sinto a Emília

Bordando

Porém, sem conseguir falar

Rodando

Daqui ninguém me ouve

Bordando

Ninguém me vê

Rodando

Mas escutam os fuxicos que me formaram

Bordando

Enxergam os retalhos de mim

Rodando

Sou um boneco espantalho

Bordando

Sou a formação malformada

Rodando

Uma princesa desencantada

Bordando

 

Sobre a Autora:

Autora baiana, Kananda Gomes começou a escrever quando criança e não parou mais. Além de escritora também é estudante de Museologia na UFBA e criadora da página no Instagram @eu.e.minhas.ironias onde compartilha diversos textos com seus seguidores leitores.



 

Revisão: Karla Gama

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