Reuni as suas cartas e fiz um livro. (...) O nome da moça, cujo perfil o senhor desenhou com tanto esmero, lembrou-me o nome de um inseto. Lucíola é o lampiro noturno que brilha de uma luz tão viva no seio da treva e à beira dos charcos. (...) Deixe que raivem os moralistas. (...) Novembro de 1861. G.M. (Prólogo do romance Lucíola - 1862)
LUCÍOLA E A SUBJETIVIDADE ROMÂNTICA: UMA INTRODUÇÃO AO TEMA
A Província do Rio de Janeiro, sede do Império de Dom Pedro II, coroado em 18 de julho de 1831, após a abdicação de Dom Pedro I, era conhecida como a Corte Real Brasileira, espaço urbano conhecido àquela época como o local escolhido pelo Rei para ser sua cidade-residência. E é naquele Rio de Janeiro e nesse período da História brasileira que o enredo de Lucíola (1862) é ambientado.
Quarto romance de José de Alencar e primeiro da trilogia que o escritor denominaria de Perfis de Mulher, complementada por Diva (1864), e Senhora (1875), Lucíola retrata a sociedade carioca de uma época burguesa e tradicional, centrada em uma minoria Capitalista que frequentava o Teatro Lírico nos finais de semana, passeava à tarde pela Rua do Ouvidor e à noite pelo Passeio Público, então espaços nobres direcionados à fina casta carioca. Minoria esta que morava nos bairros de Botafogo e Flamengo, e gostava de protagonizar dramas amorosos que iam de simples flertes e namoros não concretizados a paixões avassaladoras.
Mais que hoje, naquela sociedade patriarcal do século XIX, os homens tinham o direito de levar uma vida sexual livre, o que permitia a todos, inclusive aos casados, vivenciarem experiências extraconjugais com o consentimento, ainda que passivo, de suas mulheres. Aliás, naqueles tempos, as cortesãs tinham a mesma popularidade das atrizes e senhoras aristocratas, apesar de não possuírem o mesmo respeito.
Profundo observador e crítico da sociedade de seu tempo, José de Alencar, explora em Lucíola a máxima Capitalista de que os mais ricos têm o direito de sobrepor-se aos menos favorecidos. Fato que pode ser comprovado no trecho em que Dr. Sá, amigo do personagem principal Paulo, exige da cortesã Lúcia (leia-se Lucíola) que imite as poses eróticas retratadas nos quadros de sua chácara, como forma de pagamento pelas regalias por ele oferecidas em um rico jantar. Vejamos:
"— Pois, meus senhores, continuou Sá, mostrando-lhes estas pinturas, preparei-lhes uma agradável surpresa. É nada menos que o original delas; não o original frio e calmo, mas um verdadeiro modelo, vivendo, palpitando, sorrindo, esculpindo em carne todas as paixões que deviam ferver no coração daquelas mulheres.
— Onde está ele?
— Lúcia vai mostrar-nos.
— Tu não farás isso, Lúcia! Disse eu, à meia voz.
Dobrando como uma palma flexível o seu talhe esbelto, atirou-me ao ouvido uma palavra, que vazou no meu cérebro e correu-me pela medula dos ossos, como gota de metal em fusão.
— É preciso pagar a conta da ceia!"
Romance social-urbano, Lucíola expõe de maneira nua e crua os padrões de conduta e os valores de uma sociedade brasileira do século XIX, em franca transformação, movida pelo dinheiro e, claro, preocupada com o status social que ele proporciona. Os preconceitos, valores morais e financeiros pertinentes àquele período são sintetizados no núcleo narrativo que envolve Paulo, um aspirante a aristocrata pernambucano, e Lucíola, uma cortesã de origem humilde que se torna abastada às custas de seu corpo, protagonistas do romance no qual vivem um grande amor.
Lucíola escandalizou a sociedade carioca daquela metade do século XIX, pois seu enredo explicitava de maneira contundente algo sabido, tolerado, mas nunca aceito. Coisa proibida que era tratada veladamente e à boca miúda à época de sua publicação: a prostituição.
Apesar de suas características românticas, onde a personagem Lúcia tem um excelente caráter que é comprovado através da abnegação e estoicismo com que se sacrificou por sua família humilde, tornando-se, por conta disso, vítima das engrenagens capitalistas de sua época, não se pode enquadrar Lucíola como romance escrito à luz da tradicional estética da escola Romântica. Suas descrições detalhadas e marcantes da vida de alcova de uma sedutora prostituta, emprestam tintas Realistas ao tecido textual que José de Alencar habilmente entrelaça em seu enredo, deixando claro que sua intenção não é a de transformar Lúcia em uma heroína, mas, sim, de mostrar a realidade dura e desigual da Sociedade Imperial Brasileira de então.
JOSÉ DE ALENCAR E A SOCIEDADE DE SUA ÉPOCA
Lucíola é um romance costurado e construído a partir das cartas escritas pelo jovem e apaixonado Paulo, que são destinadas a uma misteriosa Senhora chamada G.M. Em 1861, a Senhora G.M. resolve reunir as missivas de Paulo e publicá-las em forma de um livro intitulado Lucíola, por acreditar que aquela história de amor merecia ser conhecida por todos. Ao tempo de José de Alencar, o moderníssimo artifício literário de escrever um livro dentro de outro livro era algo inovador. Essa técnica só seria literariamente definida um século depois da publicação de Lucíola, quando a crítica búlgaro-francesa Júlia Kristeva, em seu Ensaios de Semiologia. Editora: Eldorado - 1971, definiria esse processo de criação literária como Intratextualidade, ou seja, um texto produzido dentro de outro texto, com o objetivo comum de ambos se completarem no resultado final de um determinado romance. Ao utilizar-se da Intratextualidade, o escritor propositadamente dá à sua personagem principal "autonomia" para escrever sua própria história, o que se caracteriza, segundo Kristeva, como um meta-romance, ou romance dentro de outro romance, técnica que Graciliano Ramos magistralmente explorou, mais de meio século depois de Lucíola, em Caetés (1933) e São Bernardo (1934).
Logo nos primeiros dias após ter chegado de Olinda para morar no Rio de Janeiro, em 1855, Paulo, 25 anos, foi convidado por seu amigo Dr. Sá para acompanhá-lo a uma festa religiosa do bairro da Glória. Lá, em meio à multidão de fiéis, sua atenção se volta para uma jovem e bela mulher. Ao ver Lúcia, Paulo dirige-se encantado ao amigo Dr. Sá, obtendo como resposta palavras que o fizeram descobrir quem na verdade era aquela fascinante moça:
"— Quem é esta senhora? (...)
— Não é uma senhora, Paulo! É uma mulher bonita. Queres conhecê-la?...(...)
Compreendi e corei de minha simplicidade provinciana, que confundira a máscara hipócrita do vício com o modesto recato da inocência. Só então, notei que aquela moça estava só, e que a ausência de um pai, de um marido, ou de um irmão, devia-se ter feito suspeitar a verdade".
Apesar de sua rara beleza e rosto angelical, Lúcia era uma cortesã. Entretanto, esse fator não impediu Paulo de se apaixonar por ela. Sua natureza complexa e seu forte temperamento, contrastavam com suas boas atitudes. O pêndulo que oscila entre sua devassidão e interesse de Lúcia pelo dinheiro fácil e seu grande coração preocupado com o bem-estar de sua família e dos menos favorecidos, conduz Paulo a descobrir em Lúcia aspectos de bondade e pureza que o cativam.
Os encontros iniciais dos dois, ora no teatro, ora casa de Lúcia, são inicialmente puros, tornando-se, ao longo do romance, profundamente sensuais. Apesar de pagar inicialmente por seus serviços, Paulo não a deseja como uma mundana famosa por seus requintes de alcova. Sente que a ama, assim como pressente que ela também o deseja de forma diferente. A prova maior desse amor surge quando ela se afasta de tudo para dedicar-se exclusivamente a ele. No entanto, uma briga por ciúmes a faz retornar à sua antiga vida. O romance corre, desliza como deslizam ao correr da pena, como em todos os escritos de José de Alencar, até a constatação, por parte de Paulo e Lúcia, que seu amor é mais importante, o que os leva a decidir definitivamente por ficarem juntos.
Nesse ínterim, Lúcia conta ao seu amado Paulo a história de sua vida, ao mesmo tempo que declara simbolicamente morta a cortesã que havia sido até ali. Ela havia se iniciado como prostituta por necessidade financeira, a convite de um milionário chamado Cunha, pois sua família estava com febre amarela e sem recursos financeiros para o tratamento. Seu pai, após descobrir tudo, a expulsa de casa, condenando-a a uma vida cortesã. Revela também que seu verdadeiro nome é Maria da Glória e que Lúcia era uma antiga amiga dela que havia morrido, tomando-lhe ela emprestado seu nome. Logo torna-se amante de um homem que a levou para uma longa temporada na Europa. Ao voltar, descobre que a mãe, o pai, uma tia e dois irmãos haviam morrido, só lhe sobrando uma pequena irmã chamada Ana, que ela então toma como sua responsabilidade, internando a menina em bom colégio interno carioca.
Essas confissões são o pano de fundo para um pacto de amor eterno entre os dois. Lúcia afasta-se da arrogância da Corte, dos seus amantes endinheirados e das orgias bacantes, indo morar com sua irmã no distante e bucólico bairro de Santa Teresa, numa singela casinha alugada. Esse insulamento, onde determinadas personagens distanciam-se da luxúria e dos pecados da cidade para encontrar o melhor de si mesmos em um ambiente natural e purificador, é uma das características mais marcantes da corrente romântica, metáfora para a expiação e busca pela redenção dos males cometidos.
No ambiente tranquilo do afastado Santa Teresa, Paulo e Lúcia passam a viver um amor sincero e livre dos olhares reprovadores da urbe, o que lhes possibilitava passear de mãos dadas entre beijos trocados sob as copas de árvores verdejantes e leves brisas.
Novamente adotando Maria da Glória como seu verdadeiro nome, Lúcia fica grávida de Paulo, o complemento da felicidade que tantos buscavam. Entretanto, ao sofrer um aborto, Maria da Glória recusa-se a tomar um remédio que lhe ajudaria a expelir completamente o feto de seu útero e salvar sua vida.
"— Lançar!... Expelir meu filho de mim?
(...)
Iremos juntos! (...) Sua mãe lhe servirá de túmulo".
Essa atitude ocasiona uma grave infecção que conduz Maria da Glória à morte. No seu leito final, ela confessa todo o seu amor por Paulo, pedindo ainda que o mesmo se case com sua irmã Ana, a quem ela deixara em testamento uma fortuna de cinquenta contos de réis. Paulo recusa-se, aceitando ser somente o "pai" de sua pequena cunhada.
O dia da morte de Maria da Glória transcorre lento e cheio de dores. Em seus últimos momentos, ela, enfim, confessa a Paulo a importância que ele tinha em sua vida:
"— Nunca te disse que te amava, Paulo!
— Mas eu sabia, e era feliz!
— Tu me purificaste, ungindo-me com teus lábios. Tu me santificaste com teu primeiro olhar! Nesse momento Deus sorriu e o consórcio de nossas almas se fez no seio do criador. Fui tua esposa no céu! E, contudo, essa palavra divina do amor, minha boca não a devia profanar, enquanto viva. Ela será meu último suspiro".
Lucíola se encerra com a última das cartas enviadas à misteriosa Senhora G.M., onde Paulo, após seis anos passados desde a morte de Lúcia, Lucíola ou Maria da Glória, como cada um ledor aqui pretenda, ainda declara amá-la. No último envelope que destina à Senhora G.M., Paulo encerra alguns fios do cabelo de sua amada, como forma de despertar na destinatária de suas missivas todo o sentimento e dor que ele sofre naqueles momentos. A primeira frase do último parágrafo do livro sintetiza toda a essência Romântica de José de Alencar:
"Há nos cabelos da pessoa que se ama não sei que fluído misterioso. Que se comunica com o nosso espírito".
Esse arremate, essa peripécia final, insere Lucíola na Corrente Romântica Brasileira, não sem antes empresta-lhe alguns traços Realistas-Naturalistas, comprovando toda a genialidade de José de Alencar ao conseguir de maneira excepcional trasladar-se de uma Escola Literária para outra. Traços estes que seriam muito bem utilizados por Adolfo Caminha ao escrever, 31 anos depois de Lucíola, A Normalista, romance que traz no seu enredo Realista outra Maria, desta vez Maria do Carmo, uma jovem menina que, depois de ficar grávida de seu padrinho João da Mata, é enviada pelo mesmo para a distante localidade da Aldeota, situada nos arrabaldes da provinciana Fortaleza do final do século XIX. Maria do Carmo, assim como Maria da Glória, também perde seu filho, fato que se caracteriza como uma das muitas semelhanças existentes entre Lucíola e A Normalista, numa clara comprovação de que Adolfo Caminha, com absoluta certeza, valeu-se do mote Romântico inserido em Lucíola, de seu conterrâneo José de Alencar, para escrever A Normalista.
Ambos os romances criticam as sociedades nas quais seus enredos são ambientados, no Rio de Janeiro e em Fortaleza, respectivamente, através das observações feitas por oniscientes personagens narradores. Porém, é conveniente saber que os dois romances em questão foram escritos à luz de duas correntes literárias absolutamente distintas: a Romântica e a Realista, sendo os seguidores desta última ferrenhos críticos da primeira.
Em Lucíola, pois, José de Alencar delineia a realidade nacional a partir do centro urbano do Rio de Janeiro da segunda metade do século XIX, sociedade esta da qual ele era parte ativa. A partir das falas dos personagens narradores e de outras secundárias, os conflitos entre valores já legitimamente brasileiros e antigos valores importados, comprovam o entrechoque cultural de uma jovem sociedade, de um jovem País, em busca de sua nacionalização. Entrechoques estes ainda tão pertinentes aos dias de hoje.
Por fim, como pano de fundo para todas as diretrizes nacionalistas de José de Alencar, a trama de Lucíola remete-nos à constatação de uma narrativa circular no que diz respeito à vida de Lúcia/Maria da Glória. Em um primeiro momento, a pobre e angelical Maria da Glória transforma-se na impudica e abastada cortesã Lúcia, para depois ser reconduzida por seu grande amor às suas origens humildes, porém, honradas. O quadro a seguir oferece a você que ora e lê um erro cálculo matemático para a comprovação de minha análise crítica:
ESTRUTURA DA NARRATIVA
Os vinte e um capítulos de Lucíola correspondem às várias cartas enviadas pelo narrador protagonista Paulo a uma senhora chamada G.M. que as reúne e publica em forma de livro. De estrutura simples, a narrativa linear deste romance de José de Alencar apresenta um espaço temporal rigorosamente delimitado ao tempo necessário para que dois núcleos sejam criados e expostos.
No primeiro núcleo, Paulo conta à senhora G.M. sua história de amor vivida ao lado de Lúcia. O segundo núcleo, muitas vezes não percebido pelos leitores menos atentos, centraliza-se na senhora G.M., personagem responsável pela organização das cartas escritas por Paulo, cartas essas que dão formato final a este romance. Ao afastar-se completamente da trama, deixando que as personagens "pensem" e "hajam" por si próprias, Alencar lança mão de um ardil literário que faz dele, provavelmente, o primeiro escritor brasileiro a abandonar as enfadonhas narrativas baseadas em descrições de ambientes estáticos e objetos imobilizados, tão contumazes àquela época.
Provando ser um homem muito à frente do seu tempo, em Lucíola José de Alencar escreve um livro no qual o autor consegue introduzir o leitor em um enredo no qual as personagens se encontram interligadas por uma trama comum, onde as impressões da personagem-narradora, a sutil e enigmática Senhora G.M., passam a ser também as do leitor, que participa ativamente do desenrolar da trama. Esse estilo de escrita, atualmente tão comum, não era inédito, mas era bastante recente ao tempo de José de Alencar. Poucos escritores naquela metade de século XIX ousavam escrever àquela singular maneira, algo que vinha ganhando força a partir da França de Édouard Dujardin, escritor francês, poeta e dramaturgo, um dos pioneiros da técnica literária do Fluxo da Consciência ou monólogo interior, utilizada em seu romance Os Loureiros estão Cortados (Les Lauriers sont Coupés) de 1888.
Em Lucíola, José de Alencar lança mão da técnica do discurso direto livre, onde o total “desaparecimento” do autor, que opta por não desempenhar nenhum papel na trama, proporciona assim total liberdade de pensamentos e atitudes a Paulo e Lúcia, permitindo que tais personagens adquiram "vida e atitudes próprias" no decorrer da narrativa, permitindo ao texto maior carga emocional e agilidade discursiva.
Finalmente, no que diz respeito à marcação do tempo histórico e aos espaços geográficos nos quais se insere a trama, as cartas de Paulo são escritas no ano de 1861, o que pode ser constatado logo na primeira página do romance. No que se refere ao tempo histórico ou cronológico, as cartas marcam o período que vai do dia 15 de agosto de 1855 (dia no qual acontece a Festa de Nossa Senhora da Glória), no qual Paulo conhece Lúcia, até meados de 1856, quando ela morre. Já o espaço geográfico do romance limita-se quase completamente à cidade do Rio de Janeiro, à exceção do único passeio que Paulo e Lúcia fazem a São Domingos, na então longínqua Praia de Icaraí, litoral do Rio de Janeiro.
A redenção de Lúcia culmina com a descoberta de sua gravidez e não aceitação dela. Mesmo com o melhor parteiro afirmando que a criança em seu ventre estaria viva, Lúcia acredita que seu corpo é sujo e morto, e por isso não é capaz de gerar um filho. Morre, grávida. Paulo, atendendo a um pedido seu, cuida de Ana até que ela se case e parta em busca de sua felicidade...
SOBRE AS PERSONAGENS PRINCIPAIS E SECUNDÁRIAS
PAULO: Natural de Olinda (Pernambuco), é um jovem ingênuo, Bacharel em Direito, de 25 anos e recém-chegado ao Rio de Janeiro para estabelecer-se financeiramente.
LÚCIA (Maria da Glória): Prostituta bonita e abastada, com 19 anos de idade é uma das cortesãs mais ricas do Rio de Janeiro. Com olhos escuros e cabelos ondulados igualmente escuros, é bela e refinada, sendo cobiçada pelos homens e invejada pelas mulheres. De origem pobre, foi obrigada a se prostituir para sobreviver, uma vez seus pais estavam doentes. Acabou sendo expulsa de casa pelo pai, restando-lhe a prostituição de luxo. Após conhecer Paulo, descobriu o amor e decidiu abandonar a vida de cortesã. A elenco como a primeira personagem dotada de aprofundamento psicológico da Literatura Brasileira.
Dr. SÁ: 30 anos. Amigo de infância de Paulo, encarregou-se de apresentá-lo à sociedade carioca. Fazia reuniões em sua casa e convidava prostitutas para participarem. Apresenta Paulo a Lúcia e, quando sabe do envolvimento dos dois, aconselha Paulo a abandoná-la. Afirmando que ele, Paulo, estava sendo malvisto pela sociedade tradicionalista de então por deixar-se acompanhar de Lúcia. Dr. Sá representa uma metáfora da hipocrisia da sociedade Capitalista de sua época, aliás, da sociedade Capitalista brasileira ainda tão atual.
COUTO: Ex-amante de Lúcia. Responsável por ela ter se tornado uma prostituta. Foi ele quem ofereceu-lhe dinheiro em troca de sexo, quando a família da moça estava na miséria.
"Fiquei só, uma menina de quatorze anos para cuidar de seis doentes graves, e achar recursos onde não havia... Passou um vizinho. Falei-lhe; ele me consolou e disse-me que o acompanhasse à sua casa... Esse homem era o Couto... Ele tirou do bolso algumas moedas de ouro, sobre as quais me precipitei, pedindo-lhe de joelhos que me as desse para salvar minha mãe, mas senti seus lábios que me tocavam...
LAURA e NINA: Prostitutas que trabalham com Lúcia, mas a invejam devido a extrema e fascinante beleza da morena de 19 anos com olhos escuros e cabelos ondulados.
JESUÍNA: Quando Lúcia foi expulsa de casa por seus pais, foi morar com Jesuína. Mais tarde ela aparece como a enfermeira de Lúcia em seu leito de morte.
SR. ROCHINHA: Jovem de 17 anos, desregrado e entregue à vida boêmia. Apaixonado por Lúcia. Personagem criado por José de Alencar para claramente homenagear Lord Byron, Mestre maior do Romantismo.
George Gordon Byron, 6º Barão Byron, conhecido como Lord Byron, foi um poeta britânico e uma das figuras mais influentes do Romantismo. Entre os seus trabalhos mais conhecidos estão os extensos poemas narrativos Don Juan, A Peregrinação de Childe Harold e o curto poema lírico She Walks in Beauty.
"O Sr. Rochinha... trazia impressa na tez amarrotada, nas profundas olheiras e na aridez dos lábios, a velhice prematura. Libertino precoce, curvado pela consumação, tinha o orgulho do vício, que estampara as faces.... Se fosse pobre, o Sr. Rochinha teria fumaças de byroniano; mas ainda era rico de herança que esbanjava e, portanto, não passava de um moço gasto".
CUNHA: Outro ex-amante de Lúcia, abandonado por ela quando a mesma descobre que ele temia ser deixado pela esposa rica e potentada, o que o levaria a ser cerceado das regalias de um casamento de arranjos.
ANA: 12 anos, é a irmã mais nova e única parente viva de Lúcia, passa a morar com ela no interior fluminense depois que a mesma abandona o obscuro mundo da prostituição. Possui traços muitos semelhantes aos de Lúcia. Quando Lúcia falece, Ana fica sob responsabilidade de Paulo. Ao final da trama, casa-se com um homem de boa índole, tendo um futuro bastante diferente do de sua irmã. Propositadamente José de Alencar deixa o romance em aberto ao não revelar o destino de Ana, que certamente gozará uma vida plena de felicidades, mote maior da Escola Romântica.
Sobre o Autor:
Túlio Monteiro – Escritor, biógrafo, historiador e crítico literário. Graduado em Letras pela Universidade Federal do Ceará – UFC. Grau de Especialização em Literatura e Investigação Literária, também pela Universidade Federal do Ceará – UFC, com a monografia: Intertextualidade e Fluxo da Consciência na Obra de Graciliano Ramos.
Membro efetivo da Academia Internacional de Literatura Brasileira - AILB - Cadeira de número 246 - Com sede em Nova York - Estados Unidos da América.
Autor dos livros
Agosto em Plenilúnio – Poesias – 1995 – Imprensa Universitária da Universidade Federal do Ceará.
Lopes Filho e a Padaria Espiritual – 2000 – Biografia – Coleção Terra Bárbara – Edições Demócrito Rocha – Jornal O Povo.
Sinhá D'Amora, Primeira-Dama das Artes Plásticas do Brasil – Biografia – 2002 – Coleção Terra Bárbara – Edições Demócrito Rocha – Jornal O Povo.
Antologia de Contos Cearenses – 2004 – Organizador – Coleção Terra da Luz – Imprensa Universitária da Universidade Federal do Ceará – UFC, em parceria com a Fundação de Esportes, Cultura e Turismo de Fortaleza – FUNCET – Prefeitura Municipal de Fortaleza – Ceará.
Dois dedos de prosa com Graciliano Ramos – Contos – 2006 – Coleção Literatura Hoje – Imprensa Universitária da Universidade Federal do Ceará – UFC.
Sonhos e Vitórias - A História de João Gonçalves Primo – Biografia – 2007 – Em parceria com o Poeta, Escritor, Historiador e Biógrafo Juarez Leitão – Premius Editora.
Cajueiro Botador – Infanto-Juvenil – 2008 – Coleção Paic – Secretaria de Educação do do Estado do Ceará – SEDUC – Governo do Estado do Ceará.
Assessoria Técnica do Texto Original
24º Cine Ceará – Prêmio de Melhor Produção Cearense para o curta-metragem "Joaquim Bralhador", adaptação do conto do livro "Joaquinho Gato", do escritor Juarez Barroso – Dirigido pelo cineasta Márcio Câmara – 2014.
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