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Prole de Atlas

Pega-se um ônibus para a rotina,

esta outra coisa morna,

que até nos serve um vômito

quando se dá o sinal vermelho.

Mais que um pouco à deriva,

catando lascas do passado,

somando lascas para as horas,

a rotina sempre finda

como um futuro para meio.


Mas a rotina não pede nada,

definição indefinida,

encaminha-se por entre as casas,

por entre as avenidas,

pelas coisas bagunçadas,

pelas ordens enfileiradas,

e entre as cores que o apogeu

da luz determina

ainda que caoticamente,

como o coração de quem as sente

e já não imagina o que fazer,

ou do que se trata.


Ainda assim, é possível

livrar-se, pelo menos,

de uma dor muscular, pelo costume;

de uma culpa, pelo degredo;

ou uma fruta que não vai

dar em árvore nenhuma

porque outra rotina

trabalha constantemente

em leva-la para o mar, pelo rego.

“E já não é possível ser diferente”,

decoramos, afinal,

“nem muito espiritual,

até o fim dos tempos”.

 

Sobre o Autor:

Daniel Cosme é graduando em Letras, Português, na Universidade Federal de Pernambuco, desde 2018. Vem escrevendo poesia há não mais que três anos, com variados interesses estéticos, e envolvido com temáticas relacionados ao encontro e desencontro, medo e esperança. E apesar de cristão, não escreve louvores; às vezes, sátiras sobre isto. Crê que a poesia é um espaço livre de pecados.

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