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Resenha do livro: Assim na terra como embaixo da terra, de Ana Paula Maia


Palhaço Triste Com Flores Na Parede De Azulejos
Capa do livro

O livro Assim na terra como embaixo da terra, publicado em 2017, pela autora Ana Paula Maia, tem uma narrativa ágil e desnorteante. O romance não perde tempo em provocar o leitor desde sua primeira página, fazendo com que ele comece a imaginar e procurar possíveis razões e morais da história, assim como seus possíveis finais. A narrativa se passa em uma colônia penal, onde os presos de alta periculosidade são transferidos sem receberem as falsas esperanças de que sairiam dali com vida ou liberdade.

Nos primeiros capítulos, a autora não deixa claro quem, de fato, é a personagem principal. A história é repleta de homens com crimes semelhantes, mas comportamentos e culpas distintas. Esperei, ao logo de todo o romance, por esclarecimentos dos possíveis motivos para a brutalidade da personagem Bronco Gil, quem vem a ser, mais tarde, a personagem principal da narrativa. Pouco foi dito sobre o seu passado que justificasse esse seu comportamento agressivo e defensivo com todas as demais personagens.

Verso do livro

Este é um romance em que comparativos psicológicos ou filosóficos devem ser levados em consideração. Metaforicamente, podemos comparar a colônia penal, junto a sua aparente liberdade, aos distúrbios emocionais modernos, em que as pessoas estão presas a condições muitas vezes criadas por suas próprias mentes. A autora explora o eufemismo nas descrições de liberdade, colocando os presos como livres entre muros que apenas os lembram de suas condições de condenados. Esse aspecto pode ser observado quando o diretor da colônia liberta, temporariamente, pares de presos apenas para caçá-los e entregá-los a sentença destinada a todos que são mandados para lá: a morte.

A narrativa de Maia pode deixar muitas pontas soltas para leitores distraídos ou que assimilam suas leituras de forma literal, sem interpretar entrelinhas e metáforas. Como justificativa de seus castigos severos, ao caçar os condenados, Melquíades, o diretor da instituição, diz: “A justiça está sempre um passo atrás da injustiça...".

Ana Paula Maia (autora do livro)

Ana Paula Maia nos leva a pensar sobre nossas próprias prisões psicológicas e no preço que pagamos por não reconhecermos o que, de fato, é ter liberdade. Os homens ali confinados podem não ter uma perspectiva de liberdade, mas tampouco querem morrer. Apesar de viverem em condições de prisão sem grades, eles não conseguem aproveitar as belezas que os dias podem oferecer. Estão sempre preocupados em não morrer e, por esse mesmo motivo, acabam sendo caçados. A partir disso, faço uma analogia simples com a vida moderna capitalista, em que lutamos todos os dias para não morrer e alcançar mais do que possa nos tornar alguém. Com isso, eu pergunto: vale a pena, apenas sobreviver?

 

Sobre a Autora:

Escritora e poeta, nascida em Pernambuco, mora nos Estados Unidos, desde 2002. Autora de Memórias de Armário; Carnaval, Futebol e Pandemia e dos contos das antologias: Gordes (Se liga editorial) e Nordeste em cores (Coletivo Oxelgbtne). Sua vivência como imigrante lhe proporcionou uma visão culturalmente diferenciada para proporcionar às suas personagens um empoderamento há muito perseguido pelas mulheres brasileiras, propositalmente proporcionando-lhes inevitáveis finais felizes.

 

Revisão: Pamela Giovana Augusto

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