O café em seu aroma
Traz em suas entranhas
Marcas de dor e luta
Que a história quis apagar
Mulher escrava ia pro eito
Mesmo servindo na casa grande
Sem falar da obrigação
Em gerar filho pra ajudar na plantação
Teve mulher da elite, tida como coadjuvante
Rotulada de boneca, e de sem preocupação
Na ausência dos maridos, saiam da retaguarda
Embrenhavam-se no sertão pra cuidar da produção
A mulher imigrante fazia a panha do café
No trabalho da derriça, eram chamadas meia-enxada
Com contrato em nome de homem
Trabalhavam o dia todo pra ganhar só a metade
Mulheres, colonas sofridas, desde que aqui chegaram
Já iam para o trabalho com seus filhos no colo
Lá viam engatinharem e darem os primeiros passos
E os de 12 anos na lida já entravam
Tinham o assédio a enfrentar, como diz o ditado popular:
“Se tiver fia bonita, não mande apanhá café
Se for menina, volta moça, se for moça vira muié.”
E se ainda engravidavam, em desgraça elas caíam
A história silenciou essas vozes femininas
Escravas, colonas e proprietárias, as mulheres do café
E vocês ao sorverem essa bebida tão querida
Lembrem-se destas guerreiras já tão esquecidas.
Sobre a Autora:
Jussara Helene Martins, Odontóloga, Terapeuta e Escritora, sua alma livre permite permear por áreas tão distintas com leveza e alegria.
Atualmente reside no Litoral Norte de São Paulo, local que muito influenciou em seu posicionamento perante a vida, refletindo profundamente na escrita.
Revisão: Karla Gama