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Vozes Silenciadas


Foto de uma mulher negra, forte
Ilustração: Karl Manguson (Unsplash)

O café em seu aroma

Traz em suas entranhas

Marcas de dor e luta

Que a história quis apagar


Mulher escrava ia pro eito

Mesmo servindo na casa grande

Sem falar da obrigação

Em gerar filho pra ajudar na plantação


Teve mulher da elite, tida como coadjuvante

Rotulada de boneca, e de sem preocupação

Na ausência dos maridos, saiam da retaguarda

Embrenhavam-se no sertão pra cuidar da produção


A mulher imigrante fazia a panha do café

No trabalho da derriça, eram chamadas meia-enxada

Com contrato em nome de homem

Trabalhavam o dia todo pra ganhar só a metade


Mulheres, colonas sofridas, desde que aqui chegaram

Já iam para o trabalho com seus filhos no colo

Lá viam engatinharem e darem os primeiros passos

E os de 12 anos na lida já entravam


Tinham o assédio a enfrentar, como diz o ditado popular:

“Se tiver fia bonita, não mande apanhá café

Se for menina, volta moça, se for moça vira muié.”

E se ainda engravidavam, em desgraça elas caíam


A história silenciou essas vozes femininas

Escravas, colonas e proprietárias, as mulheres do café

E vocês ao sorverem essa bebida tão querida

Lembrem-se destas guerreiras já tão esquecidas.

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Sobre a Autora:

Jussara Helene Martins, Odontóloga, Terapeuta e Escritora, sua alma livre permite permear por áreas tão distintas com leveza e alegria.

Atualmente reside no Litoral Norte de São Paulo, local que muito influenciou em seu posicionamento perante a vida, refletindo profundamente na escrita.


Revisão: Karla Gama

11 comentários


Carlos Prestes
Carlos Prestes
15 de abr. de 2021

Vozes silenciadas cabe bem no título do poema, que traz versos amadurecidos pelos detalhes de uma contextualização e resgate histórico que coloca a figura feminina como centro da discussão, pois bem sabemos que, muito se tem debatido temáticas mil ao doce sabor aromático do cafezinho quentinho, mas nunca pararam pra observar que, na própria degustação do café, havia uma temática importantíssima a ser visualizada e colocada em cima da mesa, que é a história das mulheres que trabalhavam na colheita desse grão, cuja autora vai informando e, ao mesmo tempo, denunciando esse triste legado da história brasileira, em que as mulheres trabalhadeiras e trabalhadoras, sofriam abusos e maus tratos. A poesia é isso mesmo. Ela consegue enxergar os desconsertos de…

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Jussara Helene Martins
Jussara Helene Martins
15 de abr. de 2021
Respondendo a

Muito obrigada! ❤️❤️👏🏼

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Luiz Rodriguez
14 de abr. de 2021

Parabéns pela sensibilidade tão bem escrita. Sussurros como esse quebram os silêncios injustos, parabéns.

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Jussara Helene Martins
Jussara Helene Martins
14 de abr. de 2021
Respondendo a

Obrigada, de coração 🙏🏽

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Sâmira Ambar
Sâmira Ambar
14 de abr. de 2021

Jussara, sua sensibilidade demonstrada em seus poemas me encantam ! Parabéns!!! 🌹

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Aline Amorim
Aline Amorim
14 de abr. de 2021

Lindo Ju, parabéns! Infelizmente somos silenciadas em diversas esferas.

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Jussara Helene Martins
Jussara Helene Martins
14 de abr. de 2021
Respondendo a

Muita luta pela frente ...

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dorimaso46
14 de abr. de 2021

Parabéns. Para quem teve a experiência da vida rural, daqueles tempos, grande verdade 🏆

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Jussara Helene Martins
Jussara Helene Martins
14 de abr. de 2021
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❤️❤️❤️

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