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A Concha Dourada

Era uma manhã quente de maio. Uma grande concentração de nuvens se aproximava tentando cobrir o Sol que persistente brilhava por sobre a abóbada celeste.


Xavier saia de casa para mais um dia de busca. Precisava desesperadamente de um emprego. Seu cabelo desalinhado, suas roupas mal passadas e um suor nervoso e persistente indicavam que seria mais um dia de Insucesso.


Concentrado Xavier pensava focado em cada uma das palavras ensaiadas para a entrevista de emprego que o aguardava aguardava. Eu estava tão concentrado que não observou um objeto incomum no meio da rua. Tropeçou.


Deu graças a Deus por não ter chovido. Caiu sobre o pó da poeira da rua. Com chuva certamente estaria encharcado de lama. Levantou-se desajeitado sem prestar atenção que sua camisa havia ganhado um novo rasgão. O que o derrubara? Xavier fui tomado de uma grande curiosidade. Uma curiosidade irresistível.


Olhou para o ponto onde deveria estar o objeto em que tropeçara. O que era aquilo? Parecia uma concha. Uma grande concha… Uma grande e pesada concha dourada.


Era uma concha incrível! Inacreditável! Certamente era de ouro maciço. Como era pesada!


Aquela concha ali poderia ser a solução para todos os seus problemas! Não precisaria mais procurar emprego, não precisaria mais se preocupar com dinheiro… Era sua carta de alforria, seu grito de liberdade, sua cornucópia salvadora!


Levantou com dificuldade o pesado objeto redentor, para só então perceber que o objeto não era mas isso. Era na verdade uma concha oca como qualquer outra. Uma concha, dessas que encontramos na praia e que, segundo os mais velhos, servem para ouvirmos o mar de onde quer que estejamos.


Então, com todo aquele peso, tal concha não poderia ser de ouro. Ouro algum pesaria daquele modo. Chumbo, aliás, não poderia apesar daquele modo. Havia de ser algo mais, algo muito diferente.


Sim, sim, algo havia de estranho naquele objeto. Xavier não conhecia qualquer matéria capaz de pesar daquele modo. Uma singela concha. Uma concha dourada, pequena, abandonada ao léu no meio da rua. Quer dizer, não tão pequena. Repousando-a sobre sua mão, cobria da ponta do dedo médio ao fim de sua palma. Pequena, para justificar o seu peso. Quanto pesaria? Oito quilos? Dez, talvez?


Sim, era oca. Talvez pudesse ouvir o mar, se a levasse ao ouvido. Seria, certamente, bastante refrescante num dia tão quente. Afinal, pensou Xavier, o que teria ele a perder? Com alguma dificuldade, levou o objeto cintilante em direção a sua orelha direita encaixando-a dentro do orifício inferior do objeto.


Ah, que magnífico! Era um som belíssimo de se ouvir. Mas não era o mar. Não! Era mais um cântico angelical, ou canto das sirenes, sereias perdidas no meio do mar, condenadas a encantar os homens por toda a eternidade!


E assim ouvindo aquele cântico celeste, permaneceu Xavier embasbacado, sentado ao meio-fio, esquecido da entrevista, esquecido do mundo.


E, à medida que aquele cântico se desenrolava, ele se fazia aos poucos compreender, como se a ensinar ao seu atento ouvinte como lhe ouvir. Como se a lecionar cada um de seus próprios códigos secretos. Porque não eram códigos, nem eram secretos. Eram uma mensagem.


E a cada mínima revelação, Xavier ia ficando mais vívido, mais animado, inexoravelmente agitado por poder compreender algo tão sublime.


E, como num quebra-cabeças, as peças começavam a se fazer notar, e começava a ser possível encaixá-las, uma a uma, na medida em que as peças intermediárias iam se exibindo.


E, pouco a pouco a expressão sorridente de Xavier começou a dar espaço a outro olhar, distante, e então se tomou Xavier de um ar tenso, e, finalmente, de pavor!


Era, sim, uma mensagem. Mas, não uma mensagem amistosa. De forma alguma. Jamais! Era demais para uma mente humana, pelo menos para uma mente simplória como a de Xavier.


Xavier se levantou. A concha caiu, rolou de volta para o meio da rua e lá ficou, à espera de mais um tropeço.


Xavier? Este não teve dúvida: fugiu! Saiu gritando que todos fujam, que o fim está chegando. Nunca mais foi visto em parte alguma. Nem a concha.


Pablo Gomes, agosto de 2020


 

Esse texto é fruto de um exercício de escrita. Era preciso constar um lugar (rua), um objeto (concha dourada) e uma ação (fugir). Que tal você escrever um texto também? Manda pra a gente publicar! Seguem algumas palavras para servirem de mote:

  1. casa - caneta - comer

  2. escritório - banana - saltar

  3. escola - cama - beber

  4. hospital - roda - voar

  5. posto de gasolina - pincel - ler

  6. avenida - porta - quebrar

  7. consultório - caminhão - noticiar

  8. banheiro - catavento - dormir

  9. caverna - carro esportivo - nadar

  10. floresta - ventilador - escrever

  11. praça - desodorante - entender

Vamos lá, pessoal! Soltem a imaginação! Estou ansioso para ver do que vocês são capazes!


Espera! O que é isso?


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