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Anteros - Cap. 01 - Caso Inicial

Atualizado: 13 de abr. de 2021

A comemoração se fazia no pátio da delegacia, a nova delegada era apresentada. Os policiais reverenciavam a velha amiga de escola, que jamais imaginariam ver na posição atual.

Ao sentar-se na cadeira do gabinete, recebeu o primeiro presente. A caixa artesanalmente decorada não trazia remetente. Abriu com olhos atentos e, ao levantar a tampa, avistou o absorvente manchado.

Ficou calada enquanto Danilo, o estagiário que lhe entregara a encomenda, lhe observava. Levantou-se rapidamente e correu à rua, tentando avistar o entregador. O estagiário a seguia, descendo pela rua lateral da delegacia, à beira do rio, mas sem sucesso.

Ao retornarem, foram abordados por um dos investigadores.

— A Carla desapareceu.

— Como assim? Ela estava aqui hoje?

— Até o momento da posse, sim.

— Já revistaram todo o prédio?

— O Freitas ainda está procurando, mas já rodamos o prédio todo.

— Olharam as câmeras?

— Que câmeras? Está achando que isso aqui é capital?

— Fala direito comigo. E eu não estou achando nada, quero todo mundo atrás dessa investigadora agora. Tavares, ligue para a casa dela.

O investigador desceu as escadas e entrou na viatura. A delegada e o estagiário foram direto ao telefone.

— Bom dia, dona Celma, aqui é a delegada Lucena. Estamos querendo saber se aconteceu alguma emergência na família ou algo para que a investigadora Carla saísse daqui sem aviso.

A resposta negativa ascendeu-lhe uma preocupação.

— Danilo, você lembra do rosto de quem entregou aquela caixa?

— Se eu vir eu reconheço.

— Vamos procurá-lo agora.

Foram na direção dos poucos motoboys da rodoviária, perguntando aos que encontraram pelo rapaz procurado. Sem respostas, continuaram na direção do Mercado Municipal. Os feirantes, em polvorosa, anunciavam seus produtos com gritos ritmados. Em meio à balburdia da xepa, Elisa e Danilo procuravam avistar um sujeito tão comum e desconhecido que até desacreditavam da própria propensão de encontrá-lo.

Andavam atentos ao canto do Mercado, quando avistaram o dono de um dos quiosques noturnos entregando uma sacola a um jovem.

— Acho que é aquele. — Apontou o estagiário.

Saíram correndo em direção ao jovem que, ao ver a movimentação, partiu pela rua lateral do Mercado. Elisa gritou-lhe, ordenando que parasse. Continuaram pela rua dos Operários até que a delegada lhe desferiu um tiro.

A bala, apenas de raspão na perna, e a pedra irregular do calçamento, fizeram o jovem tropeçar e cair. Foi rendido pela delegada.

— Tavares, ligue para o Pereira e mande ele passar aqui agora.

Pereira, com a viatura, chegou e levou o jovem à delegacia. Elisa logo indagou o rapaz.

— Quem é você e por que entregou essa caixa aqui?

— Tenho nada a ver com isso não dona.

— Perguntei quem é você e que diabos está querendo.

— Eu é que pergunto, dona...

— Delegada.

— Já chegou atirando nos outros.

— Primeiro, deixa de ser mole que a bala mal te arranhou. Segundo, quando um policial te mandar parar, pare. Agora fala que caixa era aquela.

— Não sei não, senhora. Só faço o que me mandam.

— Então aproveita essa sina de pau mandado e me responde. Quem mandou?

— Está curiosa, dona?

— Já disse que é delegada.

— Se essa caixa já deixou a dona desse jeito...

— Você está me achando com cara de que?

— Pode responder?

— Está achando que isso aqui é brincadeira? Então vou te mandar pro nosso brinquedo. Pereira, pode levar. Vai passar o sábado na cela.

— E que direito de me prender a dona tem?

Elisa levantou-se e exibiu seu distintivo.

— Com o direito de delegada civil de Ecoporanga.

Ia saindo da sala quando o jovem, já sendo levado pelo investigador, disse:

— Problema não, amanhã eu saio. Quem está achando que é brincadeira é a senhora. Nem imagina o tamanho do esquema.

 

Capixaba natural de Ecoporanga, atualmente residindo em Feira de Santana-BA; estudante de Pedagogia, escreve desde criança. Apaixonado por café, criança, história, arte e cultura brasileira. A Arte de Viver foi sua primeira novela publicada, além da coletânea Contos Oh! Ríveis, de humor, estando presente em coletâneas de contos e poemas do Projeto Apparere e contos disponibilizados na Amazon.

O gênero policial vem sendo seu novo foco na escrita, explorando a temática familiar, um prato cheio para discutir as relações da sociedade e refletir sobre as atitudes passionais.

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