Quarta-feira de cinzas
Tão odiada, tão temida
Por foliões, sempre rejeitada
Ano após ano, sempre malquista
Mas, num ano como este
Sem carnaval, frevo nem samba
Sem baque solto nem virado,
Sem ritmo, sem poesia
A quarta-feira não traz
Nem o habitual amargor do fim da folia
Nem mesmo a cinza que seu nome prometia
Um mais obscuro sabor já nos atormenta
Roubando-nos a paz, e a saúde mental
Roubando-nos entes queridos, dia a dia,
Há semanas, há meses...
Há muito tempo, não há como haver folia!
Após centenas de milhares de mortes
Evitáveis em assombrosa maioria
E obrigados a tolerar, em silêncio obstinado,
Autoridades que, em plena pandemia,
Favorecem o vírus, com ações e declarações
Fortalecem a doença, e não o seu combate,
Podemos dizer que é conveniente a coincidência
Que nossa carcereira, tal doença,
Cala do povo sua alegria, o carnaval
E, com a folia, os protestos bem humorados
Contra tais autoridades!
E como tantos peitos, protestos são sufocados,
Matando mais um pouco nossa carcomida democracia
Ê, quarta-feira, talvez o mal seja ainda mais antigo!
Antes de ti, Já fizeram nossas florestas em cinzas
Puderam a proeza de fazer cinzas até do pantanal!
Sem cor, já, jaz em pura escuridão nosso país,
Pintado com vazamento de óleo em nosso litoral
Está sendo também devastado e dado de graça,
E entregue a mercenários o patrimônio nacional
Talvez, o certo seja mesmo a quarta-feira
Parece que não merecemos carnaval
Pois assistimos, calados, toda desgraça
Nada fazemos para parar todo esse mal
Talvez, por isso, afinal, por todo um ano
Têm sido cinzas, todo dia,
Desde o último carnaval...
Sobre o autor:
Pernambucano, ator e escritor. Escreve em versos desde a infância e entrou de cabeça no universo dos contos e romances em 2009. Escreve em diversos gêneros, desafiando-se regularmente. Tem trabalhos em obras realistas, de fantasia, ficção histórica entre outros. Idealizou o Literatura Errante, inicialmente um blog, e tem batalhado para fazer o Literatura Errante acontecer nos novos moldes.
Publica também em:
Wattpad: @PabloAGomes
Trema: Pablo Gomes
Redes Sociais:
Instagram: @pabloagomes
Skoob (usuário): PabloAGomes
Skoob (autor): Pablo Gomes
Muito bom trabalho meu caro. As cinzas de todo dia que reflete as cinzas da sensibilidade dos governantes. Parabéns.
Muito foda!!
Parabéns, Pablo! Palavras reflexivas que nos forçam a encarar o fato de que temos sim parcela de culpa em tudo o que ocorre em nosso amado país. Sucesso a você!
Muito top! 👏👏
Amei esse final!