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Matei

Matei! Matei! Matei! Matei mesmo! Tu queria que fizesse o quê? Ia ser duas bocas pra comer, e eu não tenho dinheiro nem pra compra uma aspirina, imagina alimentar outro. Ora porra! Agora vem querendo me julgar! Dar o sustento ninguém quer, mas vim julgar os outros... É o que? Vai dar? Não?

Então pra que vim me dar lição de moral? Pecado? Por acaso você é secretário de cristo? Então pronto! Deixe que quando eu morrer eu e ele se resolve! Não precisa de você no caso! Tá me ouvindo, né? Então pare! Não, não, não precisa que você venha me falar nada! Já sou grandinha pra saber o que faço.

Foi! Matei mesmo! Satisfeita? Era isso que tu queria ouvir? Coloca na tua cabeça: EU NÃO TENHO UM PAU PRA DÁ NUMA CACHORRA! Então ia dar o que pra essa criança? Colocar no mundo pra sofrer, ficar arriscando a vida, passando por esgoto, dormindo ao lado dos ratos, cobras e baratas? E a vê crescendo e já sabendo que não há garantia que vai voltar vivo pra casa? Foi, eu matei! E não me arrependo! Se eu morasse em um condomínio de luxo, tivesse um bom emprego, soubesse que eu poderia dar uma boa vida a ele, possa que ele estivesse aqui. E outra, o corpo é meu! As escolhas são minhas! Faço o que eu bem quiser e você não tem nada a ver com isso. Tá me ouvindo, né?

O que? Pai? Que tem ele? Minha filha! É nessas horas que o pai some e a mãe se fode! Você acha o que, que ele ficou pulando de alegria? O cara quer nada com a vida e eu nem quero nada com ele também. Foi um lance muito massa, os dois gozaram e pronto! Ele tá lá com sua vidinha boa, e eu não quero ser mãe. Posso ao menos ter escolha?

Casado? Você endoidou é? Tá achando que eu sou o que pra ficar saindo com homem casado? E outra se eu sair ou não sair não é da sua conta! Por acaso já dei em cima do teu macho? Então vá a merda! Nunca vi você trazer comida pra minha casa! Pagar a minha água! Pagar minha luz! E agora quer vim dizer o que devo ou não fazer? Vai atrás de uma lavagem de roupa, oxi!

 

Sobre o Autor:

Pernambucano, ator, produtor cultural e escritor, Luiz Alladin escreve versos desde a infância, influenciado pela família, mas entrou de cabeça mesmo na literatura quando largou a faculdade de ciências contábeis e começou a frequentar os saraus. Hoje ele se dedica em escrever seus textos e a produzir eventos culturais na região onde vive, no interior de Pernambuco, preservando espaços de cultura de resistência.

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