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O desaparecimento de Seu Jaú - Parte 1

No dia em que Seu Jaú sumiu foi como se aquela cidadezinha também desaparecesse, tamanho rebuliço que se deu. A cidade era conhecida por ser longe de tudo e quase incomunicável, mas possuía habitantes que eram muito ligados entre si, o que talvez tenha contribuído para todo o caos daquela semana. No dia anterior, tudo havia ocorrido como sempre ocorreu. Na verdade, era como se o tempo ali fosse outro e com bem mais de 24h. Dona Glaucia, que ia ao mercado religiosamente ao pôr do sol, reclamava sempre da mesma demora no passar das horas. "Má esse relógio tá quebrado, não é possível. Óie pra aqui, Zé", dizia inconformada. Mas talvez isso era o que mais caracterizava os habitantes daquela cidade: a repetição. Os dizeres, os afazeres e até mesmo os prazeres eram sempre os mesmos. Por isso foi tão caótico quando Seu Jaú sumiu. Era como se um dente da engrenagem que movia aquela cidade tivesse sumido.


Jaú era um senhorzinho dos mais agradáveis. Baixo, corcunda, mas com um sorriso que exalava juventude, fazia todo mundo gargalhar quando contava suas peripécias da época de exercito. Tinha sido expulso por mau comportamento. Não entendia até hoje o porquê. Só queria, segundo ele, levar um pouco de riso àquele ambiente tão carrancudo. Sua senhora, Dona Rosa, a quem tanto amou, havia falecido tempos atrás. Foram dias difíceis. A cidade inteira pareceu sentir. Jaú parecia atônito à época, sem saber até mesmo verbalizar o que estava sentindo. "É melhor assim", dizia Padre Alberto, o mais letrado da cidade e dono da paróquia. Alberto foi quem ensinara Dona Glaucia a ver as horas. Ela ficou numa alegria que só, dizia as horas para todo mundo no mercado, incluindo seu Jaú, que nesse dia havia recebido um telegrama muito incomum.


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