Câmera, ação! É assim que o filme começa...
Foi assim que Davi, Lucas e eu resolvemos fazer um filme. Pegamos alguns celulares e fomos gravar. Sem ideia de roteiro e nem o gênero que seria, mas fomos. Por onde íamos passando íamos gravando um pouco das coisas que chamavam atenção. Gravamos a dona Maria, que lavava na beira de um rio. Achamos aquilo legal! Ela ia lavando e cantando uma música. Depois, ela botou a roupa na bacia, bacia foi pra cabeça e ela não sabemos pra onde foi.
Depois fomos gravar a cachoeira. Lá sempre tinha gente que ia pra matar o tempo, e achávamos que ia ser legal gravar as pessoas pulando a cachoeira, batendo na água e ela se espalhando, que seria legal ter aquilo no nosso filme! Chegamos lá, não tinha ninguém, foi dia de tiroteio ninguém queria sair de casa.
Então, fomos gravar a casa assombrada do Barrio, lá mora um senhor que fica fumando seu cachimbo. Dizem que ele mexe com entidades, mas não sei, ele sempre foi legal com a gente, falava pra gente ter cuidado e quando fôssemos pra mata, para respeitá-la, acho que ele é doidinho, até parece que mata é gente, mas, mesmo assim, nós obedecíamos.
Chegamos lá, gritamos, gritamos e nada, ele devia ter saído. Pensamos em esperar, mas tínhamos que gravar mais, então fomos andando.
— Parem aí, moleques! — O policial falou! Claro que paramos. A mãe sempre mandou obedecer a polícia.
— Pra onde vão? Bora! Roubaram esses celulares onde? — Ele perguntou!
— Não, senhor, a gente tá gravando um filme! Esses celulares são das nossas mães, só pegamos pra gravar, mas vamos entregar pra elas.
— Filme? Que filme? Bora, diz logo, onde roubou? — Ele falou, dando um tapa no meu peito.
Deu vontade de chorar, mas não chorei, homem não chora! Foi isso que meu pai me falou. Tentei explicar outra vez e ele não acreditou, mas o povo parou pra olhar.
Uns gritavam “tem que levar esses ladrãozinhos preso mesmo!”. Ladrão? Eu? Não! Só quero fazer meu filme. Outros diziam que deixasse as crianças em paz, elas só estão brincando. Brincando? Eu? Não! Só estou fazendo meu filme. Será que isso é difícil de entender? Eu só quero fazer um filme e pronto. E mais gente começou a chegar, o lugar começou a tumultuar. E nada da gente terminar o filme! A gente poderia até gravar aquilo, fazer uma cena policial, mas não! Eles tomaram os celulares!
Sobre o Autor:
Pernambucano, ator, produtor cultural e escritor, Luiz Alladin escreve versos desde a infância, influenciado pela família, mas entrou de cabeça mesmo na literatura quando largou a faculdade de ciências contábeis e começou a frequentar os saraus. Hoje ele se dedica em escrever seus textos e a produzir eventos culturais na região onde vive, no interior de Pernambuco, preservando espaços de cultura de resistência.
Revisão: Tatiana Iegoroff
Pode parecer alegórico ou exagerado para uns. Sei disso, pois vivo na camada privilegiada da sociedade. Mas, é uma denúncia, é real. Por mais que esse conto seja ficção, ele é a realidade de tantos jovens pelo país, que é vergonhoso reconhecê-lo! Bela denúncia, caro Alladin!
Um texto envolvente, de excelente qualidade, que dá vida à denúncia!
Ah! e com grande potencial para um curta, também.
Muito bom, como sempre deu sua mensagem.
Interessante!!! Gostei!!! Parabéns!!!
Esse já é um ótimo roteiro, é só filmar,
Eu gostei demais desse conto! Mergulhei na narrativa, mesmo ela sendo rápida