Elisa subiu a avenida e seguiu em direção ao viaduto.
— Elisa, o que foi aquilo?
— É sempre assim, ela nunca me apoia, Tavares.
— E pra onde você vai?
— Sei lá. Só queria mesmo dirigir eternamente.
— Você tem certeza que não quer parar e falar sobre aquilo?
— Parar aonde, Tavares?
— Vamos pra minha casa, pode ser?
— Tá, tá.
A delegada freou o carro no cruzamento da rua Jacinto Antônio e seguiu por ela até a casa de Danilo. Deixou o carro na garagem e entrou.
— Quer uma água, um café...
— Vodca.
— Eita, eu acho que não tenho isso aqui não.
— Ah, sei lá, Tavares, mistura qualquer merda aí... Desculpa— disse, retratando-se pela grosseria — É que a minha mãe só me estressa.
— Por que ficou tão incomodada com o que ela disse?
Elisa levantou-se e pegou o copo com seja lá o que Danilo colocara para servi-la. Bebeu de uma vez e continuou calada. O silêncio reinou até o estagiário quebrar o nervosismo, ainda um pouco tenso.
— Você não quer falar ou...
— Eu não posso ter filhos.
Danilo apenas virou o copo com água que segurava na boca e ficou calado olhando a delegada.
— Ela não sabe... Foi um dos motivos do Saulo ter terminado comigo. Na verdade, eu terminei com ele porque ele me traiu e queria que eu aceitasse só por ser estéril, e também porque eu queria fazer o concurso da polícia e ele não apoiava.
— Que idiota...
— Típico.
— Mas, como você descobriu que não...
— Quando eu achei que estava grávida dele. Aí eu fui à ginecologista e depois de uns exames...
— E a sua mãe não sabe até hoje?
— Depois que eu descobri aconteceu tanta coisa e eu fui embora, acabou que não teve momento de contar... Agora que eu voltei, vira e mexe ela joga alguma coisa na minha cara, que estou ficando velha e...
— Velha?
— Pelo menos pra ter filhos sim, mas no meu caso não tem idade nem nada. Além do mais ela fica falando que eu não tenho ninguém e...
— Porque não quer.
— O que?
—Você... Não tem ninguém porque não quer.
— Ah, não é bem assim, Tavares.
— É assim sim... Nunca vi você dando chance a ninguém.
— Dar chance a quem? Ao Pereira? O Saldanha? Você?
— É — respondeu o jovem, suando.
— Ah, você é um menino, Tavares.
— Então é só por isso?
— Só por isso o quê?
— Só porque eu sou mais novo você não...
— Tavares, acho melhor eu ir embora, essa conversa está ficando pessoal demais.
— Espera, só me fala...
— Tavares, estamos no meio de um início de investigação, se conseguirmos alguma coisa concreta podemos desmascarar um esquema inteiro na cidade, e...
— Só me fala...
— Tavares eu...
Antes que Elisa continuasse o rapaz, num lapso de coragem, agarrou-a pela cintura e a beijou. O calor do beijo o fez arrancar a blusa da delegada ser perceber e ver novamente o decote do sutiã branco de renda, o mesmo da primeira vez que foi à sua casa. O restante das roupas começou a cair pelo chão da casa e o sofá da sala foi palco de uma relação interrompida pelo sono após o cansaço de um sexo silencioso.
Sobre o Autor:
Capixaba natural de Ecoporanga, atualmente residindo em Feira de Santana-BA; estudante de Pedagogia, escreve desde criança. Apaixonado por café, criança, história, arte e cultura brasileira. A Arte de Viver foi sua primeira novela publicada, além da coletânea Contos Oh! Ríveis, de humor, estando presente em coletâneas de contos e poemas do Projeto Apparere e contos disponibilizados na Amazon.
O gênero policial vem sendo seu novo foco na escrita, explorando a temática familiar, um prato cheio para discutir as relações da sociedade e refletir sobre as atitudes passionais.
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