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  • Foto do escritorAlladin

Os financiadores da escravidão no Brasil

Atualizado: 20 de out. de 2020

Quanto vale uma vida? Perdida, entre tantas vidas mal vividas, desprovidas do sonho da liberdade. Qual é o preço pra um homem ser chamado de homem? Qual o preço de uma criança dormir de barriga cheia, cheia de esperança, que nunca conheceu a bonança de poder só ser uma criança. Noventa dólares? Vinte mil reais? Bora, quem vai dar mais? Vamos, digam-me os seus valores! Aristóteles certa vez disse “o boi desempenha o papel de escravo entre os pobres”, sua frase mostra que na Grécia antiga que pra ser ter um escravo se deveria vender uma boiada. A vida é tão cara assim? E hoje mais perto do fim, vale o mesmo dindim? Você pode até pensar que é isso coisa do passado, é contexto que não serve mais! Mas quando você olha pra trás, no espelho do passado, vai ver a repetição desse velho pensamento escravista, que aqueles senhores da época de Aristóteles ainda caminham no pensamento de muitos homens de boa fé que calculam preço da vida.

Aquele homem com o saco nas costas que todo dia passa por sua rua, atrás de catar a latinha que você joga na calçada, e o que cata é quase nada, pra manter uma família simples, sua amada e mais dois filhos. Vendo que o quilo do alumínio é entorno de quatro a dez reais, e pra um salário mínimo, quantos quilos darão? Alguém ganhará dez vezes a mais em cima dele, e ele que ganha em cima do coitado irá sustentar dez vezes a mais aquele acima dele. Então, isso é escravidão? O catador com seu trabalho digno, reciclando pra pagar o prato de comida dos seus filhos, e muitas vezes nem o prato consegue comprar, é um escravo ou não?

Abra seu dicionário, é bom que já vai melhorar no teu vocabulário e veja que significa a palavra escravo. Está com preguiça? Enfim, então eu mesmo digo, mas não venha depois falar, que está sendo enganado no fim! O dicionário diz assim “é aquele que está privado da liberdade, submetido à vontade de um senhor, a quem pertence como propriedade” Você acha que o catador de latinhas, ou até nós mesmos somos escravos de um só senhor? Vamos me diga sua opinião!

Maria! Aos sete anos foi forçada a trabalhar na roça da família, roubaram sua boneca de palha e em troca deram uma enxada, agora sem restar mais nada, vive com um balaio na cabeça e uma ferramenta na mão, é escravidão? Sem infância, sem estudo, sem alguém pra ouvir seu lamento mudo, só trabalhar e trabalhar pra ter comida e roupa pra vestir.

Menino João! Que dês que se conhece por gente, já vivia no corte da cana, lá pelas bandas da zona da mata pernambucana, sem estudo, sem infância, com muitos cortes, um no ouvido que deixou quase surdo, e outras cicatrizes no corpo por descuido de querer sonhar. O João e a Maria são personagens fictícios, baseados em muitas crianças, que não posso dizer desiludidas porque nunca conheceram outra vida que não fosse essa, que nunca deram um sorriso inocente, sem ter outra coisa em mente que não fosse trabalhar, sem ao menos ter o direito de sonhar. Essas são crianças perdidas nosso Brasil! Diga-me que é isso? Digam-me que é essas pessoas “boa fé”? Senhores de escravos, ladrões sanguinários que roubam e matam a juventude! Oque ela ganham com isso? Oque elas ganham com isso? Por que elas ainda fazem isso? É mais barato? É porque a durabilidade é maior? O rendimento é melhor? Essas pessoas que fazem isso são oque? São bem feitores ou só senhores de escravos contemporâneos?

E nós? Somos oque nisso tudo, ingênuos ou somos coniventes? Será que usamos antolhos nos olhos. Pra não ver nosso com medo, pois mesmo lado fundo, guardamos em segredo que somos os financiadores da escravidão no Brasil!

 

Pernambucano, ator, produtor cultural e escritor. Escreve versos desde a infância, influenciado pela família, mas entrou de cabeça mesmo na literatura quando largou a faculdade de ciências contábeis e começou a frequentar os saraus. Hoje ele se dedica em escrever seus textos e a produzir eventos culturais na região onde vive, no interior de Pernambuco, preservando espaços de cultura de resistência.

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