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O filósofo

Se me disserem onde está o mundo o observarei.

Os binóculos ao pescoço prontos,

as mãos já coçam: vejo gente, e vejo casas,

e vejo passantes, vejo veículos e o céu

a se espelhar na poça, no copo, nas vidraças.

As moças que ao meu lado passam, se as pergunto

o que é o mundo, me dizem que é o mundo.

Melhor: que o que vejo, que sinto, que penso,

às vezes. Ninguém me diz onde está o mundo,

mas só o que observo e vejo.


Vai ver também não sabem (não ocultam ignorância).

Dou uma volta pelo quarteirão; entro em ruas

que nunca entrei; me perco definitivamente...

Desdobram-se do corriqueiro cem janelas distintas,

cada qual com sua cabeça ou seu vazio;

cada qual com seu chamado e maldição:

Menino vem cá! Será que ele sabe onde ele está?


Agora, perdido, e por desejo tão próprio, questiono,

a quem for, o caminho de volta. “Não vá

se meter assim com o mundo. Use a cabeça.”,

este alguém todo feito da vida me diz.

Minha cabeça, pelo tráfego de ideias tomada,

se arrepia da brisa, treme da rota, parte um juízo:

Intuo que ele habite o vento! O povo assustado

fez por onde em ignorar-me. Sim, o idiota se riu.

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