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Astronomia pessoal (ou a questão de conexões meio inexplicáveis)


Dizem alguns cientistas, – ou vários sites no Google – que somos restos de poeira estelar. Nossa origem no universo partiu de pontos brilhantes há anos luz de nós. A construção do homem foi o colapso e estilhaço de gás carbônico e todas aquelas coisas químicas que fazem a gente viver. Que cada átomo nosso já existiu à gravidade zero, que a minha mão esquerda veio de uns átomos diferentes da mão direita ou que o dedo do meu pé tá ali por causa de alguma outra parte do meu corpo e que eu me construí por uma explosão, o que já desconfiava.

A olhos nus de sensibilidade, as estrelas estão sempre imóveis, a lua fica bem longe e dizer que a terra tem 4,5 bilhões de anos não me assusta muito, porque sou ruim com números. Mas trazer esse escuro mal conhecido como parte de mim me faz compreender um pouco mais os buracos de colisões contínuas que tenho, assim como o único satélite natural da terra. Saber que em algum pedaço de mim conviveu de perto com asteroides, e planetas, e galáxias, e o infinito, me mostra o quão pequeno-grande alguém pode ser. Que o mundo é um átomo também, uma célula, um lugar, uma pessoa, uma sensação ou sentimento. É matéria do tempo-espaço, em que tento me achar há tantos anos.

A idade do universo, 13,7 bilhões de anos, não me impressionam, não tanto quanto sol nascendo, quanto correr na chuva, ou a areia nos pés, a forma das nuvens, ou as paisagens que parecem mais pinturas. Van Gogh e sua noite estrelada teriam orgulho de quem as criou, mas transformar essa percepção com algumas tintas ou um lápis mal apontado e suas palavras não é tarefa fácil.

Saber que se é feito do final de algo, faz as minhas meias de pares diferentes, minhas relações meio corda bamba ou as divergências políticas pelo mundo terem magnitude zero na escala Richter. Porque se começamos do final de algo, então, o nosso final será o começo de outra coisa e nada nunca de fato vai acabar, e se nada nunca acabar isso quer dizer que as minhas feridas desse campo de batalha-viver vão ficar abertas pra sempre e que nunca haverá cura pra essa pontada no peito. Mas nunca diga nunc, porque tudo é possível, mesmo que nada nunca termine (ou comece), mesmo que apesar de eu ter saído do vácuo sideral ele continua habitando em mim. Porque de fato não nasci da minha mãe. Não, eu vim bem antes. Antes, no começo-fim, eu já era eu, mas sem a consciência do fardo que teria que carregar quando, enfim, viesse aqui pra baixo.

O oxigênio refrescou meus pulmões, mas o resto do meu corpo ainda dói do atrito que foi chegar até aqui. Continuo brilhante mesmo não estando mais lá em cima. A única diferença é que me ilumino por dentro e guardar toda essa luz tá me queimando, e até agora nada conseguiu apagar esse fogo: extintores, água, álcool, beijos, sexo, desapegos, fingimento, nada disso funciona. Continuo ardendo e o pior é que começando a ter umas rachaduras que tão deixando aparente. Já coloquei "bandeide", esparadrapo, supercola, nada tem colado meus caquinhos. Assim, os tenho guardado numa caixa de fósforos na esperança de que um dia se encaixem de novo. Quem sabe os devolvendo pro céu eu me resolva de vez.

Porque eu sou multiverso também.

 

Sobre a Autora:

Carioca apaixonada por literatura, Maria Carolina Rodrigues escreve desde a infância. Inicialmente mergulhada no mundo da poesia, também se aventura em ensaios, contos e roteiro. Graduada em Letras - Produção Textual, pela PUC-Rio, possui um pé em design com o hobbie de colagem digital. Atualmente, trabalha como escritora e revisora textual.

 

Revisão: Luiza Fernandes

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