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Entre Nietzsche e Nelson Rodrigues, eu ainda escolho a mim mesmo

Atualizado: 9 de fev. de 2021


(Friedrich Wilhelm Nietzsche (Röcken, Reino da Prússia, 15 de outubro de 1844 – Weimar, Império Alemão, 25 de agosto de 1900)

ENTRE NIETZSCHE E NELSON RODRIGUES EU AINDA ESCOLHO A MIM MESMO

Parto rumo a mais uma noite de sono mal dormida. É madrugada alta. Altíssima. De certeza só a de que um novo dia está por vir. Algo assim com um quê de revolta inserida na verve máxima de um ser vil como as inimizades colhidas ao longo de anos de existência. Se o que sinto é de todo revoltoso, nada mais claro que a insensatez dos muitos tempos conjugados amiúde nos serões e peças que a vida nos prega sem ter um pingo – sequer – de pena dos que nos seguem feito cordeiros a caminho do sacrifício em altar-mor.

É de todo prazeroso sentir que o tempo nos carrega como crianças acariciadas pelas mãos leves de uma mãe caprichosa nos seus deveres maternos, nos seus deveres de quem procriou através do sexo muitas vezes não previsível. Muitas vezes feito sem o calibre necessário no tocante às responsabilidades inerentes aos que põem filhos no mundo como Deus criou batatas. Eu, por exemplo, desejo aos que ora me leem que nunca tenham cometido o absurdo de exibir ao Mundo rebentos que nunca vingarão no que se refere ao galgar das posições sociais necessárias ao crescimento nato dos seres humanos.

Se por muitas vezes meus textos são ácidos é porque assim o sou: taxativo e cruel aos meus próprios escritos, aos meus próprios alfarrábios! Para os que ainda me seguem nessa dura lida da escrita curta, escrita dura e constante, fica a dica de nunca se enviesarem para os lados da mesma. Pois ela desconstrói um ser se ele não estiver de todo pronto para o dedilhar firme de palavras e sílabas compostas ao bel prazer de dedos ágeis e mentes nem sempre tão cristalinas. Mentes por vezes doentias no tocante ao servir sem serem servidas. De ser jantar em vez de jantar em mesa posta sobre a mesa. “Tão longe fui, tão longe vou...”.

E me revolto, senhores e senhores! Uma revolta nada branda nem branca como deve ser afeita aos da escrita de gatilhos rápidos e dolorosos. De gatilho vil e constante na arte de matar com o tiro mais certeiro do mais certeiro dos assassinos. Se isso não for o mais incendiário dos Infernos de Dante, qual será a classificação do termo Inferno?!

E divago! E desconstruo o que escrevo! Para mais tarde refazer o que desfaço. Isso é um exercício de plena canalhice no referencial de um escritor que nunca se sente satisfeito com seus achados literários. O que de certa forma é bom, pois estar sempre se reformando se reformulando é de todo sadio e salutar. É provar a si mesmo e aos seus pares que uma certa revolta ainda pulsa em seus nervos e músculos cansados da longa lida que é viver. Simplesmente viver. E já que "viver não é brincadeira, não", por que não o fazermos de modo brando, como fogo leve a nos aquecer em madrugadas frias e inconstantes?! Sim! O ideal é que toquemos nossas existências de maneira mansa, de maneira constante e segura, de maneira maneira. Se é que me faço compreender em minha escrita repleta de armadilhas léxicas.

É certo, ledores que a existência nos prega peças de arrepiar o mais descrente dos viventes. Mas é exatamente nisso que se fixa a beleza de se estar vivo e atento aos descalabros do dia a dia de nós – sementes plantadas por um Deus castigador, ameaçador e severo.

E me revolto, senhoras e senhores! Uma revolta insana e cega ante retinas cansadas de uma vida jogada fora de maneira aturdida e cheia do nada charme de ser um perdedor nato, um “chovedor” de poesias processadas com o desprazer de helicópteros em revoada sobre a “praça que é do povo, como o céu é do condor. É o antro onde a liberdade cria asas sem calor”, no dizer de um certo Castro Alves.

E firme fico de meus desprazeres de poeta sem pena afiada. Sem um rabisco sequer que seja ou que possa passar à posteridade de meus seguidores e gerações pósteras. Mas sigo infame, cego de horizontes, descamisado de prazeres carnais, absorto de ideias geniais. Pois sou um poeta Simbolista na maior acepção de um Mário da Silveira, assassinado em Fortaleza, plena Praça do Ferreira aos 22 anos de idade. No bolso apenas um soneto perfeito, simbólico, que lhe foi impresso postumamente em livro intitulado “Coroa de rosas e de espinhos”. Para ler sobre a vida, obra e morte de Mário da Silveira acesse: (https://tuliomonteiroblog.wordpress.com/2018/11/05/das-coisas-da-poesia-cearense-mario-da-silveira-um-breve-texto-em-primeira-pessoa/).

Pois sou desses, dessa estirpe mágica dos que nada vão deixar que se preze, que se corresponda à verdade e veracidade dos fatos que narrarão sobre minha pessoa no decorrer das décadas e séculos que estão por vir. Pois "sou poeta um não aprendi a amar". Nunca soube o que era me fixar em um coração que fosse, que valesse a pena ou à minha alma pequena de escrevedor insano e insatisfeito com planeta ao seu redor.

E me revolto, senhoras e senhores. Uma revolta cruel e maltratante aos meus dedos cansados e calejados pelo teclado de um velho computador. De que me serve, pois, a arte do beletrismo, se ela não me traz o pão nosso de cada dia?! O fardo positivo de um fabricador de crônicas que serão lidas e depois esquecidas pelos que ainda me seguem feito animais em sacrifício. Sim! Julgo como animais em sacrifício os que caminham pelas letras que junto em forma de historietas para acalantar seres ávidos dos meus sofrimentos mais agudos. Dos meus sofrimentos mais íntimos. Sendo que nunca revelarei o que sinto de verdade, sob pena de me evidenciar enquanto esteta nada envaidecido, nada acometido pelos dissabores de escrever por escrever.

E REVOLTEM-SE, senhoras e senhores. Sublevem-se às suas existências vis e não sejam vis como vil é o metal que as comandam. Sejam legítimos! Sejam vocês mesmos e nunca temam seus mais escusos ladrões de pensamento. Falo-lhes dos íncubus e súcubus que passeiam por seus sonhos mais abscônditos e vagueiem por seus desejos mais abstrusos. Sintam-se e deixem-se sentir, saber e ser ouvidos, uma vez que o Mundo não perdoa os que nasceram fadados ao fracasso ou ao temor do insucesso absoluto. Reiterem seus NÃOS ao niilismo passivo de Nietzsche, que é incompleto, falho e que fere a moral cristã ao afirmar que a vida deve ser regida por qualquer tipo de padrão amoral, tendo em vista que nós, os seres humanos, por sermos inferiores e habitarmos um Mundo superior, podemos nos permitir usar nosso livre arbítrio da maneira que bem quisermos, mentindo a nós próprios, falsificando nossas próprias existências, e vivendo vidas – efêmeras vidas – fixadas em eternas dúplices inverdades.

Não! Eu hoje não lhes estou hipócrita nem tampouco santo do pau oco. Eu lhes estou mesmo é Nelson-Rodriguiano. Aliás, nem isto! Eu hoje estou mesmo é Túlio-Monteiriano. Agora, se a carapuça lhes serviu, tenham santa paciência...A vida é como ela é!

(Nelson Falcão Rodrigues (Recife, 23 de agosto de 1912 — Rio de Janeiro, 21 de dezembro de 1980)
 

Sobre o Autor:

Túlio Monteiro – Escritor, biógrafo, historiador e crítico literário. Graduado em Letras pela Universidade Federal do Ceará – UFC. Grau de Especialização em Literatura e Investigação Literária, também pela Universidade Federal do Ceará – UFC, com a monografia: Intertextualidade e Fluxo da Consciência na Obra de Graciliano Ramos.

Membro efetivo da Academia Internacional de Literatura Brasileira - AILB - Cadeira de número 246 - Com sede em Nova York - Estados Unidos da América.

Autor dos livros

Agosto em Plenilúnio – Poesias – 1995 – Imprensa Universitária da Universidade Federal do Ceará.

Lopes Filho e a Padaria Espiritual – 2000 – Biografia – Coleção Terra Bárbara – Edições Demócrito Rocha – Jornal O Povo.

Sinhá D'Amora, Primeira-Dama das Artes Plásticas do Brasil – Biografia – 2002 – Coleção Terra Bárbara – Edições Demócrito Rocha – Jornal O Povo.

Antologia de Contos Cearenses – 2004 – Organizador – Coleção Terra da Luz – Imprensa Universitária da Universidade Federal do Ceará – UFC, em parceria com a Fundação de Esportes, Cultura e Turismo de Fortaleza – FUNCET – Prefeitura Municipal de Fortaleza – Ceará.

Dois dedos de prosa com Graciliano Ramos – Contos – 2006 – Coleção Literatura Hoje – Imprensa Universitária da Universidade Federal do Ceará – UFC.

Sonhos e Vitórias - A História de João Gonçalves Primo – Biografia – 2007 – Em parceria com o Poeta, Escritor, Historiador e Biógrafo Juarez Leitão – Premius Editora.

Cajueiro Botador – Infanto-Juvenil – 2008 – Coleção Paic – Secretaria de Educação do do Estado do Ceará – SEDUC – Governo do Estado do Ceará.

Assessoria Técnica do Texto Original

24º Cine Ceará – Prêmio de Melhor Produção Cearense para o curta-metragem "Joaquim Bralhador", adaptação do conto do livro "Joaquinho Gato", do escritor Juarez Barroso – Dirigido pelo cineasta Márcio Câmara – 2014.

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