Não iria me estender no assunto da semana passada, mas... como fizeram um auê em relação aos preços (altíssimos) das inscrições para o prêmio Jabuti (reclamarão por causa da letra minúscula usada em prêmio), resolvi usar a temática anterior.
Vamos lá. É caro. É caro e ponto. Devido a isso, somam-se os adjetivos elitista e excludente. Autores independentes pagam R$457,00. Muito dinheiro para uma inscrição. É um filtro?
“Ah! Mas teriam 500 livros de autores independentes para serem lidos. Fica inviável.”
Repense o edital. Crie novas formas, critérios, maior número de avaliadores.
“Não é prêmio de várzea.”
Para isso não tive resposta. Só confirmou que é realmente elitista e usa o poder econômico como régua de parâmetro.
Opa! devo avisar, atrasado, que as frases entre aspas foram faladas a mim, quando me posicionei quanto ao preço.
“Não é para premiar livro de historinha.”
Também confirma minha posição.
“Mas o jabuti não é prêmio de várzea, não tem que ter mil independentes mesmo.”
Essa última frase além de preconceituosa, só demonstra que a pessoa não entende como funciona o mercado.
É da quantidade que se extrai a qualidade.
Todas as frutas de uma macieira são perfeitas?
Todos os grãos de café de uma planta cafeeira são perfeitos?
Sempre são selecionados. Seleção é palavra que demonstra significado conhecido: escolher, separar, selecionar. E tem um que gosto: Escolha feita com critério e fundamentada nos motivos do fim que se quer obter. Quero o melhor? Procure em todos os lugares, para ter certeza que o melhor foi selecionado e para simplesmente ser justo.
Queria o responsável por essas falas arrogantes e preconceituosas entendesse que o talento pode nascer em qualquer lugar.
Ninguém nasce com uma plaquinha indicando que é possuidor desse ou daquele talento.
Ainda mais no país do analfabetismo funcional, da educação vilipendiada diariamente. Usada apenas em anos bissextos como devaneios políticos, que induzem a alucinação coletiva em busca de dias melhores.
Entristece-me muito. No fim entendi que a pessoa fez ataques velados à minha pessoa. Foi uma questão pessoal recheada de inveja destilada em barris de carvalho, com tons de soberba e aromas de orgulho ferido.
Porque no fim, eu escrevo, publico, ele não.
Brigo pela democratização da arte. Literária ou musical. Brigo contra esse brilho olimpiano que tentam revestir o erudito. Alguns chamariam de gourmetização. Eu chamo de idiotice mesmo.
Lembro-me de que em fins de 1999 eu andava pela livraria Saraiva que ficava no Shopping Center Norte em São Paulo e havia uma sala separada com ar condicionado para os cd’s de Jazz e Música Erudita. Eu, como músico erudito, formado em conservatório achei extremamente ofensivo, baixo, vergonhoso, elitista e excludente. Jazz, música de negros pobres que o mercado fonográfico “gourmetizou” para vender para brancos ricos (mas isso já é outro assunto de 50 páginas, rs). Achei a sala da Saraiva de extremo mau gosto. Mas é isso. Fica aqui o protesto.
Em tempos de livrarias falindo, fechando, demitindo funcionários, não repassando vendas para editoras, ainda há imbecis que acham que a arte é coisa para vender aos ricos. Faltam-lhes talvez entender que a expressão humana é... humana e não de um punhado exclusivo de intelectuais que se acham melhores, pois escrevem com palavras que poucos entendem o significado.
E como disse Saramago:
Somos todos escritores, só que alguns escrevem e outros não.
1- conhecimento é cerceado, uma vela na senzala, ascende a luz amarela na casa grande. 2- creio que por você ser sábio,é imune a tais ofensas. Parabéns meu caro.