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Philosophus Tavernisticus - A Literatura em Perigo, de Todorov

Atualizado: 21 de abr. de 2021




Hoje não haverá divagações quadrinescas mitológicas.

Sempre tem assunto, mas não hoje.

Isso é causado por um livro que estava há meses em minha estante e ontem resolvi lê-lo.

A Literatura em Perigo, Todorov.

O que me causou a abertura desse livro, por uma estranha combinação de fatores, foi uma história em quadrinhos. Na verdade, uma crítica sobre uma história em quadrinhos muito famosa. Inclusive, pretendo no futuro falar sobre ela: Watchmen.

Quando li a apresentação do livro do Todorov, já encontrei uma constatação de um fato que presenciei, detectei, e até falei sobre em uma palestra em 2018, em uma Faculdade de Letras de minha cidade. Tem até um vídeo sobre isso.

O fato é triste de certa forma.

A evidência é uma prova de que realmente a literatura está em perigo. Todorov está certo. Mas o que fazer?

Por providência divina – talvez por eu falar tanto de mitologia comparada ultimamente – há no livro, e também em pesquisas acadêmicas que acompanho; essa preocupação e possíveis atitudes para mudar esse cenário.

Qual cenário?

Alunos de graduação do curso de Letras que não leem. Não importam os motivos.

Podem variar muito. Desde questões financeiras, tempo, objetivos, cultura que herdaram da família ou do grupo social, etc. Muitos fatores e aspectos, em uma mesa de bar não dá tempo para discutir todos.

Então, estabelecido que a experiência leitora de muitos seja precária, e que por diversos fatores ela também seja tolhida, devemos buscar soluções para o problema e não apenas descobrir por que isso ocorre.

Notei também que muitos professores depois de formados, optam por ensinar gramática. Pura e simples. Gramática, Morfologia, Sintaxe. Não vejo problema, acho ótimo. Mas isso algumas vezes afasta mais ainda o aluno da leitura. E falo daquela leitura simples e divertida. Vejo que se preocupam mais em contextualizar o autor, falar de suas influências, ano de publicação, movimento que iniciou ou fez parte. Mas não tocam no assunto principal: Capitu traiu ou não? E os vermes? Permitiram que Cubas terminasse suas memórias e só depois o consumiram?

Cadê a leitura de fruição? Divertida e que vai levar o leitor a desenvolver habilidades que são intrínsecas ao hábito de ler: empatia, imaginação, visão de mundo, filosofia, etc.

Eu leio por ler. Nunca me preocupei com essas questões de período, movimento literário, datas, etc. Isso vinha depois, um nome em uma descrição ou um costume em um diálogo. Isso me levava à pesquisa. Despertava a curiosidade. Que adianta o debruço filosófico sobre a obra e não saborear a obra?

Minha professora de literatura brasileira na pós-graduação chamou minha atenção para esse ponto. Ela disse: Analisamos todo o corpus literário de um autor e nos esquecemos de imergir na história que ele conta, de sentir as dores ou os prazeres que esse ou aquele personagem sente. Onde está a função de apenas analisar? Que isso promove no novo leitor? No menino ou menina de tenra idade que quer abrir um livro e viajar por mundos novos? Se o debate não estabelecer estratégias para que as obras cheguem aos novos leitores, tudo é vazio.

Isso mexeu tanto comigo.

Que adianta?

Sinceramente. Há sim utilidade em ler artigos acadêmicos sobre Machado, Poe, Lobato, Hatoum, e todos os autores maravilhosos que temos. Mas se isso ficar apenas na faculdade, nos círculos acadêmicos, não adianta realmente.

Temos que levar a literatura a todos.

Em tempo...

Não desmereço a Academia. Nem um pouco. A teoria literária é importantíssima.

Mas se ninguém ler, não adianta.

Nossa que calor, me deixa tomar um gole.

Até semana que vem.

16 visualizações2 comentários

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2 commenti


Tati Iegoroff
Tati Iegoroff
29 mar 2021

Alunos de Letras que não lêem... Vi muito disso na faculdade também. Parecia que o próprio curso nos afastava um pouco desse hábito. Somente depois de formada retomei com gosto minhas leituras...

Adorei o texto!

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gutodomingues
gutodomingues
29 mar 2021
Risposta a

Todorov alerta sobre a literatura que se fecha em si mesma. Se avalia, se analisa, mas não se manifesta como reflexo da sociedade em que se está entranhada. Como se a obra se valesse por si mesma, divorciada da realidade.

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