A manchete no jornal dizia assim: “Na mão uma arma. Com o tambor do revólver lotado de munição, doido pra disparar e para encher a cabeça de alguém com seus contos. Seus olhos estavam regalados, pelo jeito estava sob o efeito de entorpecentes, devia ter cheirado João Cabral, bebido Manoel bandeira, ou até mesmo o pior, injetado nas veias Machado de Assis.”
— Vai lá saber! Esse mundo de literatura é assim mesmo! Os traficantes ficam ali rondando as praças, como se não quisesse nada e aí soltam a primeira poesia. O garoto vê aquilo, começa já achando estranho, nisso o poeta vai se chegando, mostrando outra poesia e, quando você nem imagina, está lá seu filho dentro de casa usando papel. Aí é aquele negócio. Usam a primeira vez, acham legal e, depois da segunda meu amigo, não param mais! Começam a frequentar saraus, a se reunir em praças, vão passando palavras um pro outro. Isso não tem cura! Não há clinica de reabilitação que resolva, é disso para pior!
Entrar nesse mundo é perder a vida, vê o filho da Tereza! O menino educado, só vivia na igreja. Conheceu um tal de Sérgio Vaz e perdeu-se nesse mundo, faz bem um mês que ninguém vê falar mais dele, dizem por aí que ele publicou um livro. Deve estar em alguma esquina dessas vendendo e cheirando poesia. Mas é bom ele longe mesmo, Deus que me livre! Se ele aparecer por aqui eu chamo a polícia, não vou arriscar ter ele por aqui não! Vai que ele leva um filho meu pra essa vida de crime. Se for preciso eu mato, enfio a faca! Viro o cão! Mas filho meu não! Ele não vai entrar nessa de ser poeta não!
Esse aí, que passou no jornal, graças a Deus foi preso. Tenho certeza ele não ia fazer o bem não! Imagina ele entrando nas escolas, disparando contos por todo lado, esfaqueando versos, envenenando verbos na merenda da escola, induzindo a metáforas nas portas do colégio. Vige nossa senhora! Ainda bem que esse aí não vai fazer mal pra ninguém mais não!
Eu só tenho é pena da mãe dele, com um filho viciado desse, mas pode ser que até ela seja uma viciada. Eu vi uma notícia falando que 60% dos casos de viciados em literatura se viciam por causa dos pais, diziam que até bibliotecas eles tinham em casa. Olha, fico me tremendo todo só de ouvir isso! Que crueldade é essa, minha gente! Você mesmo induzir o seu filho a se drogar. Desse tipo de gente quero é distancia, distância de mim e do meu filho! Nem quero ver esse tipo de gente na minha porta, quer usar use, mas não na frente dos filhos dos outros. Mas deixa! A vida é deles, estraguem como quiserem! Só não venham querer influenciar meus filhos, que se isso acontecer aí o bicho vai pegar pro lado desse povo.
Gosto nem de pensar em um filho meu metido nessa coisa de poesia e, se tiver, eu expulso de casa! Quero nem ver essas coisas lá em casa, de saber que tem gente batendo na porta pedindo um pouco mais de palavras. Lá em casa não! Lá não é biblioteca, lá dentro não vai ser centro pra traficante vender suas métricas! Lá é casa de gente honesta, trabalhadora, não é lugar pra essa besteira de poesia.
Escrevo desde 2011, se fiquei uns 5 dias sem escrever nada foi muito, um ótimo vício, recomendável
Realmente, é viciante.