De verde-carinho hoje amanheci vestido. Eram olhos tão belos. Os belos olhos cor de esmeraldas que me deram aquela estrela há tanto tempo ardendo em seu frio noturno, chamuscando de prata pingos gelados – lágrimas de anjos – que até hoje insisto em fitar ante o sobressalto de uma nesga de céu seja, qual se fizer presente em noites sem nuvens e livres de chuvas.
E aquele jeito de amar desesperado sempre em meus sonhos já tão distantes daquela tarde de arrebol perfeito, beira do mar por testemunha de um amor que surgiu com a mesma força e velocidade que se foi. Ela me dizendo que eu era o fim do mundo e que nossas horas e dias seriam misturas d’almas tão fortes que nunca mais nos esqueceríamos um do outro. E não deu outra. Se ela lembra ou não daquele julho, basta-me a mim lembrar-me. Só dezenove anos de Amor a correr-me nas veias tão novas sem medo da morte e nem sequer que ela me viesse a chegar tão cedo.
Misturamos nossos corpos, nos doamos, nos demos centímetros a centímetro assim de um jeito tão esquisito e castanho-carícia que meus olhos se tornaram dela desde aquele abril, daquele octogésimo terceiro. Deixei a virgindade de lado e tornei-me livre naqueles braços de um abraço tão sem par que nunca mais esqueci aquele jeito de amar desesperado, chorado e vivido.
E um dia, como praxe é aos jovens em início de vida, ela se foi. Falou-me de coisas relativas a ser passional e capaz de matar por Amor. Como se eu soubesse o que era ser passional ou se me importasse em morrer por suas mãos e tão unhas afiadas. E aquela noite pintada de verde-carinho se foi tão lindamente como as estrelas que nos viram por tantas vezes deitados nas pedras daquela praia que coroamos como nossa. Por vezes lá estive novamente. Em outros julhos, outros dezembros e por muitas vezes procurei, em vão, tentar vê-la com os mesmos olhos de início. Como se os olhos do início pudessem voltar assim, do nada, da mais distante escura-cor-louvor de um século há tanto tempo nos idos anos 1980.
O casarão bonito que ela habitava àquele tempo ainda está lá, em pé, e as pedras toscas que cobriam a terra fofa daquela vila sem saída e um cheiro de chamar luar que ainda ecoa entre os beijos que por lá trocamos. Éramos, sim, um. E hoje tudo o que eu queria ver, derradeira vez que fosse, era aquele olhar poderoso de índia cearense. Aqueles olhos de verde-carinho que me disseram adeus e nunca mais pude contemplar.
CRÔNICA DEDICADA À PRAIA DAS GOIABEIRAS, NO DISTANTE ANO DE 1983, AO SESC IPARANA, À RUA FRANCISCO SÁ, 1771-A, AOS ARREBÓIS DA PRAIA DO ICARAÍ E AO 27 DE ABRIL DE 1966.
Sobre o Autor:
Túlio Monteiro – Escritor, biógrafo, historiador e crítico literário. Graduado em Letras pela Universidade Federal do Ceará – UFC. Grau de Especialização em Literatura e Investigação Literária, também pela Universidade Federal do Ceará – UFC, com a monografia: Intertextualidade e Fluxo da Consciência na Obra de Graciliano Ramos.
Membro efetivo da Academia Internacional de Literatura Brasileira - AILB - Cadeira de número 246 - Com sede em Nova York - Estados Unidos da América.
Autor dos livros
Agosto em Plenilúnio – Poesias – 1995 – Imprensa Universitária da Universidade Federal do Ceará.
Lopes Filho e a Padaria Espiritual – 2000 – Biografia – Coleção Terra Bárbara – Edições Demócrito Rocha – Jornal O Povo.
Sinhá D'Amora, Primeira-Dama das Artes Plásticas do Brasil – Biografia – 2002 – Coleção Terra Bárbara – Edições Demócrito Rocha – Jornal O Povo.
Antologia de Contos Cearenses – 2004 – Organizador – Coleção Terra da Luz – Imprensa Universitária da Universidade Federal do Ceará – UFC, em parceria com a Fundação de Esportes, Cultura e Turismo de Fortaleza – FUNCET – Prefeitura Municipal de Fortaleza – Ceará.
Dois dedos de prosa com Graciliano Ramos – Contos – 2006 – Coleção Literatura Hoje – Imprensa Universitária da Universidade Federal do Ceará – UFC.
Sonhos e Vitórias - A História de João Gonçalves Primo – Biografia – 2007 – Em parceria com o Poeta, Escritor, Historiador e Biógrafo Juarez Leitão – Premius Editora.
Cajueiro Botador – Infanto-Juvenil – 2008 – Coleção Paic – Secretaria de Educação do do Estado do Ceará – SEDUC – Governo do Estado do Ceará.
Assessoria Técnica do Texto Original
24º Cine Ceará – Prêmio de Melhor Produção Cearense para o curta-metragem "Joaquim Bralhador", adaptação do conto do livro "Joaquinho Gato", do escritor Juarez Barroso – Dirigido pelo cineasta Márcio Câmara – 2014.
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